Acreditem nos seus sonhos

BIA FIGUEIREDO 

Acreditem nos seus sonhos

É interessante perceber que muitas mulheres ao engravidarem logo começam a sentir o risco de ter a vida profissional prejudicada ou mesmo encerrada para se dedicar à “carreira” de mães.

 A maternidade ainda pode ser vista com reticência no campo profissional, imagine então ser mãe de dois. Assim como eu, muitas mulheres pelo país desempenham a função de “super heroínas”, que têm o incrível poder de estar presente em todos os momentos da criação das crianças e ainda participar ativamente das tarefas fora de casa.

 Como piloto profissional de automobilismo, eu decidi em 2020 dar uma pausa estratégica nas pistas porque queria estar plena com meus filhos que nasceram em 2020 e 2021, respectivamente.

 

 

Mesmo no tempo em que fiquei longe das corridas, sabia que isso seria apenas uma fase e logo voltaria a competir. Entendi que era o momento de redobrar os cuidados com a minha mente e o meu corpo. Para isso, mantive rotina intensa de atividades físicas específicas para pilotos, somada aos exercícios físicos clássicos de mãe com os pequenos. Desenvolvi, por exemplo, a habilidade de trocar as fraldas mais rápido do que uma parada nos boxes.

Essa força mental misturada à dedicação física me fez voltar para as pistas, com 37 anos, em alta velocidade numa categoria relativamente nova no país, a TCR South America, que envolve pilotos da América do Sul em carros de turismo e que será disputada até o fim da temporada.

 Nesse período em que assisti às corridas de longe, conversei com muitas mulheres sobre temas que envolvem a maternidade, como as que abdicaram de cargos importantes para estarem ao lado de seus filhos e o quão difícil é convencer a sociedade de que continuamos apresentando alta performance profissional mesmo com a responsabilidade materna. Esses diálogos nos fortalecem e são importantes para mostrar que não estamos sozinhas.

 O processo de recomeço na carreira de qualquer mãe, como eu senti nesta minha volta às pistas, é tão desafiador quanto nossas principais conquistas profissionais. Posso dizer que competir em igualdade com os demais pilotos na TCR me trouxe uma satisfação comparável à sensação de ter vencido a etapa da Indy Lights, em 2009, até hoje a única mulher a ter atingido esse feito.

 Nós, mulheres, carregamos em nosso DNA o dom de sabermos conciliar as tarefas do lar e do trabalho de forma harmoniosa ao ponto de nos mantermos firmes mesmo diante dos obstáculos que possam nos impedir de seguirmos com a nossa trajetória.

Toda mulher é julgada muito antes de ser mãe. Eu fui uma delas. Em um ambiente tão masculinizado como é o automobilismo, quantas vezes ouvi frases mal intencionadas, não pela minha atuação nas pistas, mas simplesmente porque eu era uma mulher que me atrevia a colocar o capacete para ultrapassar os homens nas pistas. Ser ultrapassado por uma mulher no volante era algo vergonhoso. Pode parecer clichê, mas as pedras atiradas eu guardei para construir minha fortaleza. 

 

A maternidade é um grande desafio na vida de uma mulher e ter essa experiência não limita deixar de lado sonhos. Pelo contrário, é uma forma de mostrar o quanto é possível conciliar o desejo pessoal de formar uma família com a dedicação de uma carreira profissional. Afinal, nós, mulheres, temos uma força incrível de superação.

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