A riqueza de cada um

Augusto Fidelis 

Caminhava eu por uma de nossas ruas, na maior inocência, quando fui abordado por um mendigo que, de mão estendida, implorava algum dinheiro para garantir o seu almoço. Expliquei-lhe que eu também estava sem grana, mas poderia lhe ceder apenas dois reais. Com a ajuda de outras pessoas, quem sabe, poderia comprar alguma comida. O mendigo pegou a cédula, olhou nos meus olhos, e perguntou: “Se somos todos filhos de Deus, por que alguns são ricos e outros pobres”?

Quero acreditar que os mais afortunados trabalharam mais, souberam administrar melhor seus bens, respondi. “Errado. Quem acumula riquezas em cima de riquezas é porque roubou de outros”, retrucou o mendigo com aspereza. E acrescentou: “Quando meu pai morreu, minha mãe já estava doente. Eu queria aproveitar a vida: mulherada, bebidas, farra. Quando acordei desse sonho das mil e uma noites, meu cunhado havia me passado a perna. Hoje, ele está podre de rico e eu jogado na rua, implorando a caridade alheia”.

Eu quis continuar a conversa, saber mais, entender como uma pessoa rica pode ficar pobre como num passe de mágica. Se bem que, nesse caso específico, o mendigo já havia explicado. Ele, no entanto, encerrou o papo. Afastou-se lentamente em direção a uma senhora, que estava no ponto de ônibus, e repetiu a surrada frase: “uma ajuda para o meu almoço”. Parece que não foi bem-sucedido em mais essa empreitada. O mendigo se foi e a sua indagação continuou martelando a minha cabeça: a riqueza de uns e a pobreza de tantos outros.

Diante de tantas mazelas que rodeiam o ser humano, a riqueza não pode ser encarada apenas como acúmulo de bens materiais. Conheço pessoas que têm muito dinheiro, mas são infelizes, pois, como diz o evangelista, “onde estiver o seu tesouro aí estará o seu coração”. Geralmente, acontece assim: os pais acumulam, os filhos esbanjam e os netos ficam sem nada. Outro agravante: os ricos tiram do governo, o governo arranca o couro dos pobres. Já os pobres, como não podem fazer a roda girar, tiram dos seus semelhantes e deixam os incautos na miséria.

Só é celebridade quem está na crista da onda, com o carro do ano, apartamento na praia, viagens ao exterior, polpuda conta bancária. No entanto, cada caso é um caso. Conheço também pessoas de hábitos simples, com o necessário apenas para viver, mas que são felizes, que são solidárias, capazes de repartir o pouco que tem. No meu entendimento, na batalha do dia a dia, o mais importante não é luta ferrenha para evitar as quedas, mas ter a coragem de se levantar e dar a volta por cima. Quem nunca caiu que dê risadas da queda dos outros, enquanto puder.

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