A outra face
Augusto Fidelis
Notícias vindas de Paris dão conta de que dona Mariquita publica mais um livro ainda neste ano, por ocasião do Natal. A obra já é considerada Best Seller mesmo antes do lançamento, segundo editorial do jornal Le Monde, devido a importância do seu conteúdo. O título não poderia ser mais sugestivo: “A Outra Face”.
Nessa obra, a Internacional denuncia o estado de calamidade em que se encontra a humanidade, enumerando mazelas mundo afora e admoestando sobre a necessidade de mudanças urgentes, porém, admitindo que, como João Batista, prega no deserto. Uma pena que o livro, cuja capa da primeira edição sai bordada com fios de ouro, vai custar o olho da cara. Daí, os pobres não terão acesso, logo eles, que poderiam tirar as melhores lições.
Mas dona Mariquita sempre tem um jeito de informar o povo sobre as suas novidades. À conta-gotas, a Editora Lamours solta pequenos trechos da obra para a mídia, que se delicia com esse privilégio e produz abundantes matérias sobre o assunto, incluindo apaixonados editoriais. Eu, como amigo da escritora, recebi trechos maiores, uma bênção, diga-se de passagem.
Pela razão acima, sei que o primeiro capítulo trata da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, passando pela contenda entre Israel e Hamas além de outros conflitos daqui e dacolá em que populações inteiras são ceifadas em atos insanos. No capítulo seguinte, a Internacional é dramática em tratar da imigração dos africanos, que se jogam ao mar na ânsia de chegar à Europa, na esperança de dias melhores. Porém, na maioria das vezes, só encontram a morte ou desolação.
Dona Mariquita, no entanto, não trata somente de temas globais. A violência contra a mulher também se destaca, como a história de Maria Cecília, jovem linda, inteligente e cheia de vida, que resolveu terminar o namoro para se dedicar somente aos estudos. Foi assassinada a facadas pelo namorado e ainda, depois de morta, acusada pelo delegado de ser a culpada pelo ocorrido. A comissão de direitos humanos, imediatamente, estendeu o manto de proteção sobre o assassino, apontando-o como vítima da sociedade.
Nessa obra, tão aguardada pelos vorazes leitores, dona Mariquita lamenta que nem a Igreja Católica, com dois mil anos de história, esteja livre das mazelas que varrem o mundo, e esteja passando por momentos difíceis, não devido aos seus inimigos externos, mas por a ação maligna de membros que, armados de picaretas, derrubam paredes internas da instituição a fim de abalar os seus pilares. Para dona Mariquita, está difícil encontrar quem queira dar “A Outra Face”, porque estão todos armados para a guerra.