A madrasta e/ou o padrasto inseridos no contexto familiar

Abro o ano abordando um tema complexo, mas que repercutiria em qualquer época.  Por muito tempo eu optei aguardar o momento adequado para abordá-lo por considerar tão frágil. Que fique claro que eu escrevo como se fosse filha, como se eu participasse ativamente desse contexto.

2024 iniciou e o relógio de Deus começa a contar a sua história. 

Os céus governam a tua vida. 

Fato é que quando você não externa situações, as mesmas se agravam com o tempo e torna uma confissão sem o peso da liberação. 

Quando você não fala, você não liberta e com tempo agrava o peso da mortificação tornando isso também uma confissão. No livro “cem anos de solidão” há uma passagem que diz:  

“Se não fosse as perdas das cartas, “Fernanda” não teria se importado com a chuva. Afinal de contas, para ela é como se tivesse chovido a vida inteira “

Quando você opta por uma rigidez que tira de você a leveza da vida é como se todos os dias se tornassem chuvosos. Triste a vida da “Fernanda” por ter optado por uma rigidez que retirou dela a leveza da existência, tirou ela do caminho, da sua segurança. 

Isso transformou dias de sol em dias de chuva. 

E lembremos que para a natureza cada dia é apenas um dia.

 A maneira como você enxerga sua vida é o que você enxerga nela. Isso causa impacto, portanto, cuidado! Por que insiro a madrasta neste contexto? Por ela ser a escolha de uma pessoa, apenas daquela pessoa que te gerou e isso impactará na sua vida, na sua criação, nas ausências que ficarão, principalmente quando a madrasta ou o padrasto necessitam de um lugar que garantam a eles segurança, controle e admiração dos envolvidos. Uma disputa velada. Uma queda de braço com o poder. Afinal, a pessoa é o que ela é. Não importa o tempo que passe.  

Na página 345 da mesma obra, narra uma passagem interessantíssima que diz:  “viu com uma impotência surda  e como dilúvio foi exterminado sem misericórdia. Uma fortuna que em seu tempo foi considerada a maior e a mais sólida de Marconda e da qual não sobrava nada além da pertinência”

Ou seja, aquele homem ficou pobre por um fato imprevisível, uma chuva que não parou e provocou inundação e foi destruindo tudo, inclusive sua riqueza. 

Esse dilúvio pode ocorrer na vida de qualquer pessoa e não se trata necessariamente do econômico. O que vai definir a solidez da sua fortuna é a criação de barreiras à falta de sorte que ela pode vir a sofrer. 

Um príncipe pode se tornar rei por sorte ou por mérito. O que significa que ele era um grande guerreiro, líder nato. Mas qualquer razão de sua ascensão ao trono, você precisará criar barreiras à sua falta de sorte. E talvez a sorte é o poder de enxergar as coisas com a clareza que com a paixão não é possível. Por certo que nada e ninguém que venha dividir, fracionar, alimentar rixas, poderá se manter como bom. Sabe aquelas pessoas capazes de tirar o pai ou a mãe do filho, o filho ou a filha da mãe, o irmão do meio dos irmãos, se fazendo de sonsa e usufruindo da letargia e da inocência do outro? Definitivamente, ela não é agregada à sorte de todos.  

Daí se você pensa no fim do que ganhará sua história você passará dar importância ao que importa. 

Quando você percebe o fim, o momento de quebra, queda, você entende que aquilo é capaz de acontecer com qualquer um. Diante disso você adota medidas para que não aconteça com você. Mas se você se embriagar com o luxo, com o poder, com os aplausos e ou o dinheiro, você infringirá a prudência, e ela deve ser uma convidada de honra e não sua prima antagônica que é a imprudência, para que essa não se assente à sua mesa. 

Não é possível viver na negligência, pois no andar da carruagem todos acabarão devorados. A negligência é o não fazer o que deveria ter sido feito. Ela vai sendo como espécie de cupim na madeira, corrói tudo que poderia acontecer e não acontece. Já a imprudência é fazer o que não deveria ter feito - é um choque. 

Assim concluímos que às vezes o mal é um bem e um bem é um mal. Para os amantes, a cama se torna o refúgio da confidência, por vezes manipulada. Então vocês me questionam:  existem relacionamentos sadios que nasceram de relações fracassadas? Por óbvio, contudo, relações saudáveis agregam, consolidam, possuem leveza e respeito ao próximo. Relações sadias se tornam lugar de sabedoria, devaneio da cumplicidade.  Portanto, estejam atentos às madrastas e aos padrastos, pois de relações benditas nascem o bem e não o mal, transforma maldição em benção, do prejuízo a razão do seu lucro e da derrota se torna a razão de uma vitória. 

O que o Direito diz a respeito? Significa que a madrasta e ou o padrasto não façam parte do sistema familiar? Não, pelo contrário, eles têm papel fundamental na família, mas que não é o de mãe e nem o de pai. Portanto, cabe a cada um aprender e aceitar o lugar que lhe compete, exercendo seu papel com dignidade. Já dignidade está inserida na personalidade dos que não se dão ao oportunismo. Termino esse texto afirmando o que escrevi no início dele, Deus está no governo da sua e de tantas outras histórias. 

 

Por Flavia Moreira. Advogada, pós-graduada em Direito Público, Direito Processual Civil, pelo IDDE em parceria com Universidade Coimbra de Portugal, ‘IUS GENTIUM CONIMBRIGGE, especialista em Direito de Família e Sucessões, associada ao IBDFAM e membro do Direito de Família da OAB/MG.

 

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