A linha tênue entre o tempo, a exposição e as redes de comunicação

Eu amo o versículo que diz, em Eclesiastes, que há tempo para todas as coisas debaixo do céu. Difícil é saber aguardar esse tempo, dominando nossas emoções. Um desafio saber aguardá-lo e utilizá-lo com precisão. O tempo e o que ele te proporciona pode ser um grande aliado ou seu maior adversário. Percebo isso nos entraves judiciais, em que o resultado e sua imediatividade significa justiça para quem o reivindica e injustiça para quem corre contra o tempo.


Se analisarmos bem, concluímos que todos os problemas que criamos por meio de nossas atitudes, falas, permissões e até omissões são os problemas que de fato carregam o maior peso.

Mas, se ficarmos atentos, a própria oposição mostra os lugares em que não devemos andar. A oposição lhe deixa alerta para você errar menos, não ficar parado. Certa vez, eu comentava isso com um grande amigo e cientista político. Dizia sobre o peso e a pressão da oposição e ele me respondeu que era necessário, pois assim o outro não se acomodava, era diuturnamente lembrado que havia chegado até aquele lugar. Ocorre que abuso é o excesso. A conduta do indivíduo na sua origem é lícita. Mas, quando há abuso, ultrapassa o seu direito. Na origem, o comportamento pode até ser virtuoso, mas com o tempo ele se torna nocivo. Digo em todas as áreas. Virtude extraviada se torna vício, se desvia do bem. O talento que pode ser usado para o bem passa a ser utilizado para o mal.


Assim é a vida exposta na internet. Mês passado, a cantora Sandy e seu atual ex-marido compartilharam um vídeo em família, postando sobre uma viagem realizada como se fosse um momento que demonstrasse harmonia. Harmonia essa que pegou o público de surpresa quando anunciaram seu divórcio. A cantora Luísa Sonza, posterior uma curta e intensa paixão, expôs a traição sofrida num programa de televisão, expondo o parceiro, inspiração da música que alcançou o auge da plataforma musical, gerando assim diversos posicionamentos acerca do comportamento do rapaz. Mas a pergunta é: onde fica a linha tênue em que permite uma relação saudável com os veículos de comunicação para serem bem utilizadas nas redes sociais? A supervalorização da imagem criada tem gerado jovens propícios à depressão, intensificando crises de ansiedade. As relações sociais têm sofrido diretamente esse impacto. No âmbito pessoal, o risco para a privacidade e segurança são incalculáveis. Segundo o G1, lá em 2012, quando uma concessionária de São Paulo demitiu, por justa causa, um funcionário que curtiu comentários que ofendiam a empresa. Ou seja, você é o tempo todo visto, nem sempre bem interpretado e o ladrão do tempo lhe suga rendimento e ainda lhe compete ao mercado competitivo por coisas e pessoas que você não se identifica.


Quanto mais madura, mais atenta aos meios de comunicação tenho ficado e, particularmente, descoberto que o menos é mais. Quanto mais você melhora suas escolhas, mais você otimiza os seus resultados. Já disse e replico: na vida atraímos o que comunicamos. Atenção no foco é para quem decide dar certo na vida. Entre o início e o fim há o meio termo e a busca por ele se torna dentro das telas e fora delas. Você tem o direito de perder em definições, só não tem direito de perder a meta.


Portanto, já parou para analisar qual a sua verdade? A quem interessa a sua exposição e que fazem delas? O que ela gera, agrega ou desestimula? O que lhe oferece e quanto de você está disposto a pagar pela visibilidade, distração ou foco? Qual retorno tem lhe ofertado, e se esse retorno é negociável? Para Pontes de Miranda, a autonomia da vontade é um espaço em branco que a ordem jurídica deixa para a pessoa preencher como quiser. E você, como tem preenchido a sua?

Por Flavia Moreira. Advogada, pós-graduada em direito Público, Direito processual Civil, pelo IDDE em parceria com Universidade Coimbra de Portugal, ‘IUS GENTIUM CONIMBRIGAE, especialista em Direito de família e Sucessões, associada ao IBDFAM e membro do Direito de família da OAB/MG.

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