A filosofia do nosso dia a dia

Alberto Gigante Quadros

A maioria das religiões da antiguidade possuía vários deuses e, por isso, eram chamadas de politeístas. A mitologia grega também possuía inúmeros deuses e deusas, cada um responsável por um fenômeno da natureza. O comportamento humano também era regido pela divindade. Desta forma, tudo que ocorria na natureza ou na convivência humana envolvia a ação de uma ou de mais de uma figura divina. Um exemplo ajuda a entender melhor:

Zeus, o deus supremo dos gregos, teve filho(a)s com várias deusas e também com mulheres mortais. Com Deméter, deusa da agricultura, ele teve uma filha de nome Perséfone, que encantava a todos por sua alegria e beleza. Hades, deus guardião do lugar que recebia as almas dos mortos, apaixonou-se por ela e resolveu raptá-la.

Deméter procurou a filha durante nove dias e nove noites, mas não a encontrou. Recorreu então a Hélio, o deus sol, que tudo vê. Este a informou do ocorrido e Deméter, como deusa da agricultura, deixou de cumprir os seus deveres e a fome tomou conta da terra, pois faltou comida. 

Zeus, então, arquitetou uma saída. Todos os anos, Perséfone ficaria alguns meses com a mãe e durante este período a terra festejava devido à fartura da agricultura. Nos outros meses ela ficava com Hades e, por vingança de Deméter, a terra era improdutiva, pois os grãos não germinavam. Assim surgiram as estações do ano (primavera, verão, outono e inverno). (1)

Durante séculos e séculos foi assim que os gregos entendiam as coisas da natureza e explicavam a reação dos humanos diante dos acontecimentos do dia a dia. Até que surgiram mentes iluminadas discordantes destas fantasias começaram a questionar tais explicações. Não dava para continuar aceitando isso. 

Lembremos de Sócrates. Depois veio Platão, discípulo de Sócrates. E também Aristóteles, discípulo de Platão. Estes filósofos, ainda sob o domínio da mitologia grega, começaram a oferecer explicações racionais (lógicas) em substituição à mística da mitologia. E a filosofia mexeu com tudo. No começo refletiu sobre a criação do mundo (cosmologia), depois se voltou para a natureza e suas coisas, chegando, também, ao mais íntimo do homem e suas atitudes. Não há o que a filosofia – ou uma das ciências advindas dela – não tenha estudado.    

No começo não foi fácil, pois aquele tipo de religião estava incrustado na alma dos gregos. Toda mudança gera reação e Sócrates acabou condenado à morte por não abdicar de suas idéias. Mas, alicerçados num estudo criterioso Platão, Aristóteles e depois seus seguidores acabaram ajudando a construir um novo conhecimento, que se tornaria a base da sabedoria no mundo ocidental. 

Quer dizer então que Platão e Aristóteles não acreditavam em Deus? Nada disto. Tanto um como o outro, quatrocentos anos antes de Cristo, também tinham a sua divindade. Mas isto é outra história que vamos contar mais a frente.

Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas terças-feiras, a cada 2 semanas. Na próxima edição o assunto é o seguinte: Mas para que serve a filosofia?

Médico formado pela Faculdade de Medicina da UFMG, com especialização em Clínica Médica.

 

 

  Alberto Gigante Quadros. Médico, formado pela Faculdade de Medicina da UFMG, com especialização em Clínica Médica.

 Pós-graduado em Bioética pela Unesco. Pós- graduado em Saúde Pública pela Unaerp.

Pós-graduado em Bioética pela Unesco.

Graduando em Filosofia pela UFSJ (8o. período).

 

 (1) O livro de Ouro da Mitologia / Thomas Bulfinch, Ediouro Publicações S.A., 1988.

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