A FESTA DA CUECA

CREPÚSCULO DA LEI – Ano V – CCLXIII

FESTA: É um termo oriundo do latim “festus” designando um estado de alegria e contentamento. Por conseguinte, trata-se de um substantivo abstrato, já que sua existência e consistência estão vinculados à uma fenomenologia do espírito em face de dado corte da realidade.

CUECA: Refere-se ao latim “culus” – ânus- associado ao grego “eco” – lugar. Cueca dá designação ao local onde se guarda o ânus. Sem necessidade de muitas explicações, é um substantivo concreto, atrelado a uma realidade bem escatológica.

FESTA DA CUECA: A “festa da cueca”, por sua vez, foi um artifício delituoso montado por um ex-juiz de Direito, ex-ministro da Justiça, com o objetivo de criar mecanismo de chantagem e extorsão dos “convidados” que dela participaram.

Parece óbvio que o fato não mereceu, nem vem merecendo, a atenção devida pela sua gravidade, aliás o evento ficou bem aquém do noticiário quando o tema era os tais “pedalinhos”.

Segundo declarações do ex-deputado estadual Tony Garcia a tal festa foi realizada em um hotel de luxo (Bourbon), em Curitiba, e nela estavam cerca de 30 pessoas, a maioria contada em prostitutas e desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF -4).

A mencionada festa, conforme o ex-deputado, foi organizada pelo ex-juiz, ex-ministro e ainda senador (...), ao embalo delas (as prostitutas contratadas) e com as consequências libidinosas devidamente gravadas. 

Assim, de posse de tais gravações, o ex-juiz-ministro teria como chantagear aqueles desembargadores. Coisa de crime organizado do mais baixo nível.

Ainda sobre os esclarecimentos horripilantes, Tony Garcia argumentou que era um “agente infiltrado” na tal festa, cabendo-lhe o papel de filmar os episódios comprometedores envolvendo as excelências. 

Segundo ele, o pedido da gravação envolveu também procuradores, os quais também se valeram do “material” para atos de chantagem.

Ora, não foi a primeira e nem a última vez que os moralistas sem moral são protegidos pela mídia moralista sem moral no Brasil, aqueles mascarados em “pessoas de bem”.

Mais um fato grave, criminoso, torpe, perpetrado por “pessoas de bem” que se valem do discurso moral para justificar suas violências políticas contra as forças populares.

Questões assim sempre fazem por merecer a lembrança da fala do Prof. Darcy Ribeiro, quando mencionava que a ignorância no Brasil não seria obra do acaso, mas resultado de um projeto sistêmico e permanente feito por “pessoas de bem”.

“Pessoas de bem” assim são daquelas que escondem a responsabilidade da república em golpes sequenciais desde o holocausto de Canudos, à mando do agronegócio da época. Na marcha dessa violência histórica é o impedimento a uma educação de qualidade e a um conhecimento científico de alto nível é que fazem brotar a estupidez que tudo crê, tudo repete e nada debate.

Por exemplo, somente pela ignorância é que “pessoas de bem” xingam e maldizem o Papa por pedir a paz no Oriente Médio; somente pela ignorância “pessoas de bem” xingam e maldizem o MST por enviar 2 toneladas de comida para as vítimas palestinas; somente pela ignorância é que “pessoas de bem” xingam e maldizem o atual governo por enviar aviões em resgate de brasileiros na faixa de gaza; somente por ignorância tais pessoas se chamam de “cristãos”.

São os mesmos que pedem à polícia que mate pretos e favelados e que se dizem serem a favor da vida e contrários ao aborto.

Hipocrisias a esmo, fato é que muitas outras “festas da cueca” já aconteceram, filmadas ou não. A questão de sempre é o envolvimento repugnante dos falsos moralistas, sejam do direito, da política, da mídia ou da religião, mas que estão sempre acobertados e se acobertando da invisibilidade que a ignorância lhes dá.

Dá até vontade de mandar todos lá para aquele lugar, aquele que a cueca guarda.

 

(*) Volto em janeiro/24.

Comentários