A Cultura do tal pedalar

Welber Tonhá 

Pedalar se tornou uma cultura muito difundida nos últimos tempos. É claro que muitos já a praticam por muito tempo, afinal a bicicleta foi inventada pelo ferreiro escocês Kirkpatrick MacMillan, em 1839 e popularizada como velocípede chamado de “bone shaker” ou no bom e velho português “Agita ossos”, por causa do acontecia quando circulava pelas ruas de paralelepípedos. E desde então aos poucos foi se tornando parte de nossas vidas.

Eu não me considero um ciclista propriamente dito, estou mais para um entusiasta que descobriu uma felicidade incomum ao pedalar. Que notou a união e uma infinidade de bons exemplos dados pelos ciclistas que vejo por aí. E ainda assim me senti ofendido com a coluna de Leo Aversa no conceituado jornal O Globo, intitulada “A Invasão dos Playboys Ciclistas”, em seu artigo, o autor solta uma avalanche de equívocos, ataques e preconceitos, como uma metralhadora desgovernada para todos os lados. Consegue rotular ciclistas com mais idade de “Tiozões Fitness que trocaram a bermuda cargo bege pela de lycra preta”, chega ao absurdo de ofender a arte, banalizando o colorido identitário de Romero Brito ao associar pejorativamente as cores das roupas e acessórios com araras desenhadas por ele. Eu até usaria uma roupa de ciclista criada por Romero Brito, mas o tom de desdenho usado no artigo é ofensivo à classe dos ciclistas e ao conceituado artista.

Já vivemos em uma sociedade intolerante, já sofremos com falta de espaço para se pedalar com segurança e ainda me vem um idiota (justificando para não me achar agressivo - segundo o dicionário, o termo idiota é associado à pessoa que carece de discernimento, inteligência, sem bom senso, tola   -  que além de seus preconceitos, ainda brinca com o atropelamento de ciclistas, ofende os motoristas cariocas, e despeja preconceitos com quem busca ter uma bicicleta ou equipamento melhor. Será que ele ainda escreve em uma máquina de escrever, ou também procurou um equipamento melhor com o tempo? Será que ele  já se adaptou ao progresso comprando um computador melhor,  investindo em sua ferramenta de trabalho, é o mesmo exemplo que ele critica, se você pode ter uma bicicleta melhor, um carro melhor, uma casa melhor, uma roupa melhor, ou mesmo um equipamento melhor, qual é o problema? Por que incomoda tanto ser feliz?

Eu cheguei onde queria, feliz. Esse o sentimento que existe em quem anda de bicicleta, eu nunca vi um grupo triste (até isso ele criticou que andamos em bando) sempre estão sorrindo. Até das quedas, tombos e das roupas que rasgam, se tornam motivo de alegria, vira momento de descontração, ali, no meio de quem pedala ninguém fica para trás. Sempre tem alguém que acompanha e incentiva, tem o alto, o baixo, o magro, o gordinho, o novo o velho e falo de homens e mulheres, e alguns casos até os pets participam. Claro que tem o famosos “Galáticos” que estão em um nível superior de pedal, assim como os “Pebas” que estão mais para curtir o passeio, tirar foto, conhecer cachoeira e comer pastel, e eu acho que me identifico mais com esses últimos. O que eu não encontro no meio dos grupos de quem pedala é tristeza, rancor, maldade, e pessoas como algum problema não resolvido, como deve ser o caso deste Leo Aversa.  Venha ser feliz você também, venha pedalar. Toda cidade tem seus grupos de pedal aqui em Divinópolis temos os Cascalheiros, Divino Pedal, Ventania e outros. Em BH tive o prazer de conhecer e viajar com Sagrado Pedal e acompanho pelas redes o Bike de Elite e o Thod Trip Hobbies and Outdoors, já em Contagem  acompanho as postagens do Leões do Pedal, e em todos vejo só energia positiva.

Livro da Semana

Já que o tema foi pedal voou indicar um bom livro sobre, “A Gloriosa Bicicleta Compêndio de costumes, emoções e desvarios em duas rodas” dos portugueses Pedro Carvalho e Laura Alves.  No livro a bicicleta é uma curiosa e fantástica máquina, um ser que junta de forma surpreendente à capacidade de nos transportar, de nos fazer sorrir e, sobretudo, de refletir. Neste livro elogiamos a gloriosa bicicleta, vamos em busca das suas origens, rimo-nos com ela, descobrimos as diferentes espécies de ciclistas que se avistam na selva urbana e pensamos sobre a mudança social, política e econômica que a bicicleta protagoniza, em Portugal e no resto do mundo. Em A Gloriosa Bicicleta partilhamos o amor e a felicidade de ver novos mundos devagar, ao ritmo de cada pedalada. Mas também espicaçamos, maldizemos, beliscamos, sempre com (alguma) diplomacia. Com sorte, irás ainda reter algumas utilidades tais como escolher um selim que não te magoe o rabo ou evitar cair nos carris dos elétricos. Não vais aprender a afinar mudanças, mas saberá lidar com a ira dos condutores que sadicamente tentam passar por cima. Não te mostramos quais os modelos de bicicleta mais modernos e aerodinâmicos, mas explicamos-te porque é que os verdadeiros ciclistas têm um sorriso na alma e uma pedaleira no lugar do coração.

Trechos de poemas e frases sobre bicicleta

 

“Viver é como andar de bicicleta. É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”.

(Albert Einstein)

 

“Quando te vi em uma bicicleta

duo me caiu como verdade”

“O tamanho do meu amor por ti

E o que significa liberdade”.

(Welber Tonhá)

 

“Computadores são como bicicletas para nossas mentes”.

(Steve Jobs)

 

“Toda vez que vejo um adulto em uma bicicleta, eu já não me desespero quanto ao futuro da raça humana”.

(H. G. Wells)

 

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Welber Tonhá e Silva

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

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