A cultura do casamento

 

O casamento é algo que gera muitas controvérsias, uns desdenham e outros almejam. No dito popular existem muitas piadas e brincadeiras que o descrevem de forma pejorativa, no entanto, a maior parte dos que atacam a instituição são casados, e não se separam, ou, se separam, voltam a casar novamente, um verdadeiro paradoxo e contraditório assunto. 

 

A instituição do casamento tem uma longa história que remonta a diversas civilizações antigas. Inicialmente, muitas sociedades praticavam casamentos arranjados por motivos econômicos, políticos e sociais, em vez de serem baseadas no amor romântico. Na Idade Média, o casamento desempenhava um papel crucial na organização da sociedade. As famílias nobres frequentemente usavam o casamento como uma maneira de fortalecer alianças, consolidar poder ou adquirir terras.

 

A Igreja Católica desempenhava um papel fundamental na regulamentação do casamento, e as cerimônias eram frequentemente realizadas em igrejas. O consentimento dos pais, especialmente do pai, era considerado essencial. Além disso, as classes sociais desempenhavam um papel significativo, com casamentos entre nobres muitas vezes diferindo substancialmente dos casamentos nas classes mais baixas.

 

O conceito de amor romântico não era central nas práticas matrimoniais medievais, embora existissem histórias e poemas que idealizavam a ideia de amor cortês. Como disse acima, o casamento na Idade Média era mais uma instituição social e econômica do que uma expressão individual de afeto. Durante o Renascimento, que abrangeu aproximadamente os séculos XIV a XVII na Europa, houve mudanças notáveis nas atitudes em relação ao casamento. Uma transição gradual ocorreu, passando de casamentos predominantemente arranjados para uma valorização crescente do amor romântico e da escolha pessoal dos parceiros.

 

A influência da literatura e das artes foi significativa nesse período, com muitas obras destacando o amor como uma força poderosa. O conceito de "amor cortês" tornou-se proeminente, enfatizando a idealização do amor romântico.

 

Ainda assim, em muitas camadas da sociedade, especialmente entre as classes nobres, considerações políticas e sociais continuaram a influenciar as escolhas matrimoniais. 

 

O Renascimento testemunhou uma transição gradual em direção a uma visão mais equilibrada entre o casamento como uma instituição social e a busca do amor romântico. Essa mudança de perspectiva contribuiu para a evolução das práticas matrimoniais que viriam a ser mais proeminentes nos séculos seguintes.

A Revolução Industrial e as mudanças sociais nos séculos XIX e XX alteraram as dinâmicas do casamento, com ênfase crescente na liberdade individual e escolha do parceiro. O movimento pelos direitos das mulheres também teve impacto, transformando as normas de gênero associadas ao casamento.

 

Nos dias de hoje, o casamento é uma instituição complexa que reflete uma diversidade significativa de abordagens e valores. Há uma tendência crescente em direção à autonomia individual na escolha do parceiro, com o amor romântico frequentemente desempenhando um papel central. As práticas matrimoniais também evoluíram para incluir uma ampla variedade de arranjos familiares, como casamentos interculturais, inter-religiosos e entre pessoas do mesmo sexo.

 

A igualdade de gênero tornou-se uma consideração fundamental, com muitos casais compartilhando responsabilidades e tomando decisões conjuntas. Além disso, as normas sociais em relação ao casamento têm se flexibilizado, permitindo uma variedade de modelos, incluindo casamentos tardios, uniões livres e famílias monoparentais.

 

As leis matrimoniais também se adaptaram para refletir essas mudanças, reconhecendo uma variedade de configurações familiares e proporcionando direitos iguais aos parceiros. O casamento contemporâneo é caracterizado pela diversidade, uma ênfase na comunicação e uma abordagem mais igualitária em comparação com épocas passadas.

 

Eu mesmo como romântico assumido, vou enfim me casar, quero isso, quero viver isso, e agora encontrei alguém que me fez sentir ainda mais motivado a dar esse passo, a Karen.

 

Alguns trechos de frases a respeito do tema abordado

 

Casamento

 

Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como “este foi difícil”

“prateou no ar dando rabanadas”

e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.

(Adélia Prado)

 

Costuma só observar

E de longe admirar

Jovens a se enamorar

Adultos construindo um lar 

Idosos um do outro se cuidar 

E eu a esperar

Para quando “Ela” chegar

Karen chegou 

Vou me casar

(Welber Tonhá)

 

Meu amor tem duas vidas para amar-te. 

Por isso te amo quando não te amo 

e por isso te amo quando te amo.

(Pablo Neruda)

 

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

(Mário Quintana)

 

Ninguém sabia me dizer,

Eu já queria até morrer

Quando um velhinho

Com uma flor assim falou:

 

O amor é o carinho,

É o espinho que não se vê em cada flor.

É a vida quando

Chega sangrando aberta 

em pétalas de amor.

(Vinícius de Moraes)



Cantar a voz do trovador cansada:

O que é belo, o que é justo, santo e grande

Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,

Por quanto já sofri, por quanto ainda

Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.

(Gonçalves Dias)

 

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Welber Tonhá e Silva 

Imortal da Academia Divinopolitana de Letras, cadeira nº 09

Imortal da Academia de Letras e Artes Luso-Suiça em Genebra, cadeira nº C186

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

 

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