A Cultura do 8 de março, o Dia Internacional da Mulher

 

Começo este texto literalmente “cheio de dedos”, pois a primeira sensação que me vem à cabeça é que eu não tenho lugar de fala e não tenho como falar do Dia Internacional da Mulher sendo homem. É claro que eu não posso descrever a sensação de ser mulher, as vivências e dificuldades que elas enfrentam em uma sociedade com história patriarcal, com costumes e atitudes que colocaram a mulher em posição desprestigiada  desde os tempos mais remotos e civilizações mais antigas.

Mas posso escrever sobre o que ouvi, aprendi e vivi desde minha criação rodeado de mulheres fortes, de fibra, de um lado da família mulheres negras e, de outro, mulheres indígenas, que viveram situações de dificuldade e construíram suas histórias sendo exemplos para seus descendentes, que é meu caso. Posso também falar sobre o que pesquisei, como historiador e pesquisador, saindo do óbvio e procurando entender um pouco sobre o tema.

Em minha vivência, com mulheres fortes como minha mãe, Binha, minhas avós, Julieta e Terezinha, e minha bisavó, Clarita, fui ensinado por elas a sempre respeitar a mulher como diferente, porém nunca inferior ao homem. Não tem como dizer que homens e mulheres são iguais, não são. Desde o biológico ao psicológico existem situações, vivências e profissões que cabe um e não cabe o outro. Por exemplo, um homem nunca vai poder gerar um filho em seu ventre, assim como uma mulher nunca vai produzir um espermatozóide e, para que mágica da vida se faça, é necessário a união de ambos.

Não tem como não reconhecer que o corpo do homem produz força e músculos com mais facilidade e quantidade do que o corpo da mulher. Raramente você vê um estivador, um carregador de caminhão, um mineiro (de minerar) ou um pedreiro mulher. Não que não sejam capazes, até existem algumas, mas trabalho que exige esforço físico constante é mais comum serem feitos por homens.

 

Assim como as mulheres conseguem observar, raciocinar, produzir e se concentrar em mais coisas simultâneas do que o homem. Por isso, existem mais professoras de anos iniciais, secretárias, vendedoras e faxineiras mulheres, pois são profissões que requerem muita dinâmica em sua atenção, diversas tarefas ao mesmo tempo e, principalmente, lidar com outras pessoas. Infelizmente, o valor pago e reconhecimento dessas profissões estão aquém do que deveriam ser. Sobre profissões de chefia, liderança, diretoria, neste caso, sim, não vejo diferença entre um homem e uma mulher, ambos podem exercer da mesma forma e receber o mesmo valor e reconhecimento, aqui temos ainda que evoluir.

 

Como o tema hoje é sobre o Dia Internacional da Mulher, uma curiosidade sobre a história desse dia. Todos os anos divulga-se a história de que a data surgiu em homenagem a 129 operárias estadunidenses de uma fábrica têxtil que morreram carbonizadas, vítimas de um incêndio intencional no dia 8 de março de 1957, em Nova York. Segundo a versão que circula no senso comum, o crime teria ocorrido em retaliação a uma série de greves e levantes das trabalhadoras. Embora essa seja a narrativa mais conhecida, ela não é verdadeira.

 

O primeiro registro remete a 1910. Durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, a alemã Clara Zetkin propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava mulheres de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.

 

No ano seguinte, em 25 de março, ocorreu um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que matou 146 trabalhadores - incluindo 125 mulheres, em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, entre 13 e 23 anos. A tragédia fez com que a luta das mulheres operárias estadunidenses, coordenada pelo histórico sindicato International Ladies' Garment Workers' Union (em português, União Internacional de Mulheres da Indústria Têxtil), crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho.

 

As russas soviéticas também tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas. Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917, no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo). De fábrica em fábrica, elas convocaram o operariado russo contra a monarquia e pelo fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial. Em 1921, na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, o dia 8 de março foi aceito como dia oficial de lutas, em referência aos acontecimentos de 1917. A data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975.

 

O fato de reconhecidamente existir uma dívida sociocultural para com as mulheres  não faz de todos os homens seus inimigos, não somos rivais. Temos que viver em igualdade de condições, reconhecimento e apoio. Criar um discurso de segregação entre homens e mulheres não é o caminho, pois nem todo homem é machista. Aqueles que maltratam, subjugam, agridem, ofendem, menosprezam e inferiorizam as mulheres não fazem isso por serem homens, fazem por falta de caráter, problema de índole, maldade na mente e no coração. Isso não vem no cromossomo Y que carregamos.

Precisamos reconhecer o valor das mulheres à nossa volta diariamente, enaltecendo suas qualidades, oferecendo palavras de apoio, incentivo e, principalmente, expressando o quão importante é tudo o que ela pensa, diz e faz.

Ofereço esta coluna à minha companheira, Karen Araujo de Melo, por quem tenho uma admiração gigante e orgulho da mulher que ela é como companheira, mãe  e empreendedora.

 

Alguns trechos de frases a respeito do tema abordado

 

Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.

(Madre Teresa de Calcutá)

 

D’Ela (Vim)

Com ELA (Aprendi)

N’Ela (Me inspiro)

À Ela (Me entrego)

Por Ela (Vivo)

Para Ela (Escrevo)

(Welber Tonhá)

 

Mulher é desdobrável. Eu sou.

(Adélia Prado)

 

Já fui loura, já fui morena,

já fui Margarida e Beatriz.

Já fui Maria e Madalena.

Só não pude ser como quis.

(Cecília Meireles)

 

Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.

(Sêneca)

 

A história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte.

(Oscar Wilde)

 

A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova.

(Leon Tolstói)

 

A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem.

(John Lennon)

 

 

Tem pauta para sobre a cultura? Envie para [email protected]

Welber Tonhá e Silva

Imortal da Academia Divinopolitana de Letras, cadeira nº 09

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

 

 

 

Comentários