A conta vem

A conta vem 

Gás de cozinha R$ 115, gasolina média de R$ 7,59 o litro em Divinópolis. O brasileiro amargou, na última sexta-feira, um aumento de 18,77% da gasolina, de 16,06% no gás de cozinha e de 24,93% no diesel. O reajuste é o segundo de 2022, depois da alta promovida em 12 de janeiro, e é o maior desde janeiro de 2021, segundo levantamento de petroleiros. Do ano passado para cá, a Petrobras já aumentou 13 vezes o preço da gasolina e 11 vezes o do diesel. Engana-se quem pensa que o que está ruim não pode piorar. Aqui é justamente o contrário. O aumento dos combustíveis nas refinarias deverá elevar em até 0,6 ponto percentual a inflação no Brasil, e os primeiros a sentir o impacto serão os brasileiros de baixa renda, claro. Segundo especialistas, os sucessivos reajustes no preço do diesel vão virar aumentos nos preços da comida e, consequentemente, no transporte público. Os mais pobres dependem do transporte público e comem em casa. Com a pandemia, muitos reajustes de tarifas de transporte foram represados. Agora, com esse novo aumento no diesel, as pressões no transporte público devem crescer.

Este cenário que o Brasil enfrenta hoje, e que virá como uma “paulada na cabeça” dos mais pobres, é apenas o reflexo das escolhas feitas nas urnas. A conta vem. É fato. Isso é apenas física, é apenas a Terceira Lei de Newton, a “Lei da Ação e Reação”: “toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade”. A conta vem, e quem paga ela não é quem está no poder governando o país ou quem pertence à classe média ou alta. A conta vem e quem paga por isso é o pobre. Aquele que depende do transporte público para se locomover, ou aquele autônomo que tem seu veículo como meio de trabalho, ou ainda todos aqueles que ganham no máximo dois salários mínimos. Sim! Esses sentem o impacto das escolhas dos seus representantes. Esses, sim, pagam uma conta que não é sua. Afinal, representantes do povo são eleitos a cada dois anos para que consigam criar políticas públicas, planos de desenvolvimento econômico, de acesso à educação, de erradicação da pobreza, de igualdade social, para que usem o dinheiro público com responsabilidade. Na teoria é exatamente assim que deveria funcionar, porém, entre o “deveria” e o “é assim que funciona” existe um abismo enorme, e milhões de brasileiros estão nesse abismo, pagando uma conta que definitivamente não é sua. 

Enquanto, neste exato momento, um brasileiro deixa de comer porque não tem condições financeiras para isso, um deputado recebe um auxílio moradia, um senador recebe um auxílio paletó, um juiz come caviar, um governador abre um champanhe, e o presidente ostenta em seu palácio. Tudo isso com dinheiro público. Absurdo! Surreal! Enquanto, neste exato momento, um brasileiro conta moedas para trabalhar, um empresário continua sua vida como se nada disso estivesse acontecendo aqui “fora”. Engana-se quem ousa sonhar que este cenário vai mudar tão cedo. Todos estão buscando heróis, esquecendo-se que heróis existem apenas nas histórias em quadrinhos. E que por aqui a situação perfeita é exatamente esta. Em que só um lado ganha. Afinal, até que o povo se torne consciente, é o inconsciente, a ânsia que determinarão todas as suas decisões e, com isso, chamarão talvez de “destino”, esquecendo-se que apenas o raciocínio é capaz de mudar uma realidade.

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