“Voltando a pé”

“Voltando a pé” 

Uma frase dita em um programa matinal da TV Globo, na manhã de ontem, tomou conta das redes sociais: “Não espalhe espinhos pelo caminho, porque o seu retorno pode ser descalço! Vai doer”. O pensamento veio a calhar neste momento em que o número de casos confirmados e suspeitos de covid-19 voltaram a subir assustadoramente. Espinhos, sem sombra de dúvidas, foram espalhados no caminho, e agora a população brasileira está “voltando a pé” mais uma vez. Como dois mais dois são quatro, o quadro epidemiológico da covid-19 iria piorar no país. Era apenas uma questão de tempo. Nem mesmo as melhores previsões seriam capazes de frear essa nova onda que atinge o país mais uma vez. E tudo o que os brasileiros estão voltando a viver é apenas a lei da ação e reação se fazendo valer. 

No fim de março deste ano, a Prefeitura de Divinópolis, acompanhando o Governo do Estado, o Federal e demais prefeituras do país, anunciou o fim da obrigatoriedade do uso de máscara facial na cidade, e as demais flexibilizações na prevenção à doença. Hoje, quase três meses depois, o reflexo dessa atitude tomada pelos governantes do Brasil veio: milhares de casos atingem o país mais uma vez. Na época, ao anunciar a desobrigação do equipamento, uma postagem chegou a ser feita nas redes sociais do prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (PSC), com uma imagem e os seguintes dizeres: “Chega de teatro”. Talvez, por ter causado um certo desconforto em parte da população, a publicação foi retirada do ar, mas não sem antes ter sido “printada” por internautas. A grande questão aqui, já abordada diversas outras vezes por aqui, é que na verdade teatro não é usar máscara, e sim não usar. 

Fingir que tudo está sob controle, que o fim da obrigatoriedade do uso e das demais medidas de prevenção não vão impactar a sociedade mais uma vez, isso, sim, é teatro. Fingir que a covid-19 não existe, e que se existe não é tão grave, isso, sim, é teatro pois o vírus existe, e quer os governantes queiram ou não, a humanidade ainda enfrenta uma pandemia. Mas, é como dizem por aí “quem avisa amigo é”. Afinal, apesar de os índices epidemiológicos estarem estáveis, indicando queda, ainda não era o fim da covid-19, e escolhas foram feitas. Arriscadas, por sinal. Escolhas que trouxeram a população mais uma vez ao caminho de espinhos, de busca por leitos hospitalares, por profissionais da saúde, de medo, de angústia, de desespero. E tudo isso nada mais é do que a lei da ação e reação. 

Hoje, pouco mais de dois meses após o fim da obrigatoriedade do uso, do relaxamento das medidas de prevenção e da liberação de grandes eventos, a conta veio. O teatro de que tudo estava bem, de que tudo tinha voltado ao normal, chegou ao fim. Aquela frase “quando a gente estava na pandemia” já não pode ser mais usada. A pandemia não acabou, quer o povo queira acreditar ou não. Não existe dado epidemiológico capaz de fingir que tudo está bem, a prova está aí, e o jeito é voltar mais uma vez descalço neste caminho doloroso.

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