‘Vocês estão cegos’, dispara vereador sobre promessa de conclusão do Hospital Regional

Parlamentares citaram insegurança jurídica, mas aprovação transferência do terreno

 

Matheus Augusto

Os vereadores aprovaram, na tarde de ontem, a transferência do terreno do Hospital Regional Divino Espírito Santo, em Divinópolis, para o Estado. Uma vez sancionado, promete o governo estadual, será iniciado o processo de retomada da obra. 

O projeto, no entanto, não foi aprovado sem discussão entre os vereadores. Primeiro a discursar, Israel da Farmácia (PDT) reconheceu a importância do Hospital Regional para Divinópolis e região. No entanto, pediu o sobrestamento para que a proposta fosse melhor analisada. Segundo Israel, o hospital virou palanque político e a transferência do terreno ao Estado para conclusão da obra não tem segurança jurídica.

— Não está claro se o Estado vai equipar e vai manter. O projeto não garante. (...) Precisamos dessa segurança e não temos. É a mesma coisa que construir uma casa e passar ela para uma pessoa que não vai conseguir comprar os móveis nem manter — detalhou, citando ter consultado o jurídico da Câmara. 

Presidente da Comissão de Saúde, Zé Braz (PV) afirmou respeitar o pedido de sobrestamento do colega, mas ressaltou a importância de o projeto ser votado o mais rápido possível.

— Nossa população não aguenta mais. Temos pessoas morrendo na fila, mais de dois mil cidadãos à espera de uma cirurgia eletiva. Quanto mais procrastinamos essa liberação, mais gente irá falecer — alertou.

Lohanna França (Cidadania) citou que, como a transferência tem sido utilizada como entrave para continuidade das obras, era preciso aprovar o projeto ainda naquela reunião para destravar o processo. 

— Antes, o atraso era culpa dos governos, dos deputados... Neste momento, a bola está em nossas mãos. Se a gente pedir vista, que é um direito do vereador, nossa decisão será muito criticada pela população — justificou.

Seguindo os argumentos de Lohanna, Ana Paula do Quintino (PSC) citou a importância de "passar a bola para o Estado".

Eduardo Azevedo (PSC) esclareceu a Israel que está previsto a conclusão e equipagem do hospital na legislação estadual.

 

Politicagem

Tanto Ney Burguer (PSB) quanto Hilton de Aguiar (MDB) expressaram preocupação com lideranças políticas, como deputados da região e o próprio governador Romeu Zema (Novo), em usar a conclusão do hospital para “politicagem”.

— Em quatro anos, o Zema não acabou, agora quer terminar e pegar para ele — criticou Ney.

 

Beco sem saída

Líder do Executivo na Câmara, Edsom Sousa (Cidadania) chegou a apresentar uma emenda à proposição para que o governo estadual tivesse até o aniversário da cidade em 2023 para entregar a obra. Sua sugestão, no entanto, não foi incluída na votação do projeto. 

— Se a minha emenda tivesse passado, teríamos essa segurança — criticou.

O vereador citou que o governo estadual "amarrou a coisa de tal forma que não tem saída", ou seja, o projeto deveria ser aprovado em sua originalidade. 

— Se a desgraça de Brumadinho não tivesse acontecido, esse projeto não existiria. (...) O Zema está fazendo um teatro, uma covardia — afirmou.

Roger fez coro à fala de Edsom, citando que a Câmara não tinha outra opção senão aprovar a transferência, exigência do Estado para iniciar o processo de conclusão da obra.

— Estamos reféns do governo estadual. Não temos opção neste momento. Só vamos atrasar o processo. O pedido de vistas não vai mudar a realidade do projeto — argumentou.

A situação jurídica também foi abordada pela vereadora mais votada da atual legislatura.

— São questões jurídicas que estão acima de nós. (...) Não quero carregar nas minhas costas nenhum dia de atraso. (...) Se não tivesse um desastre, não seria construído o hospital. Teremos que ter um desastre do mandato para termos políticas públicas — lamentou Lohanna.

 

Articulação e CPI

Ademir Silva (MDB) classificou a entrega do hospital como um "sonho de Divinópolis", especialmente pela possibilidade de desafogar a sobrecarga na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Ele criticou a atual administração municipal por não ter se reunido com todos os vereadores para "explicar um projeto dessa envergadura para dar um terreno de milhões ao Estado sem garantia de que vão terminar a obra". 

— Vamos aprovar, jogar essa “batata quente” nas mãos do governador e rezar para que ele esteja falando a verdade — acrescentou Ademir.

A falta de articulação com o poder Legislativo por ter ficado de fora das conversas entre Estado e Município foi citada por Rodyson do Zé Milton (PV). 

— Não temos garantia nenhuma — pontuou. 

Em continuidade à sua fala, Ademir pediu, ainda, que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o hospital seja aberta para identificar os responsáveis pela vergonha de o Município ter que transferir o terreno para quitar a dívida com o Estado por mudanças no convênio firmado em 2013 sem autorização estadual.

Ao fim de seu discurso, Edsom também cobrou, como havia feito em reuniões anteriores, o início dos trabalhos da CPI sobre o hospital regional para investigar os convênios firmados e expor as irregularidades cometidas à época.

 

Confia ou não?

Diego Espino (PSL), que disse se considerar amigo do governador, ressaltou confiar em Zema e na conclusão do hospital.

— Vocês vão ver o resultado lá na frente — prometeu.

Já Flávio Marra (Patriota) não compartilhou o otimismo do colega. Segundo ele, Zema sempre tenta desviar da responsabilidade de conclusão.

— Qual será a próxima desculpa do governo estadual? São mais de dez anos que a população espera por isso — afirmou.

 

‘Vocês estão cegos!’

Israel da Farmácia voltou a discordar dos colegas por não acreditar na existência de segurança jurídica que a transferência do terreno se transformará na conclusão do hospital.

— Temos que ter segurança naquilo que vamos votar. Vocês estão cegos, votando errados — criticou. 

Em votação, os vereadores derrubaram o pedido de sobrestamento do vereador. 

 

Cobrança

O projeto foi aprovado por unanimidade. O próximo passo, afirmaram os vereadores, é cobrar os representantes estaduais de Divinópolis e região para que o Estado agilize a retomada das obras. 

— Divinópolis não tem deputado? O Centro-Oeste não tem deputado? Vereador não fiscaliza o governador — citou Lohanna. 

Como previsto, o hospital atenderá toda a Macrorregião Oeste, composta por 53 municípios.

— Se a gente precisar alugar um ônibus e ir lá cobrar do governador que o façamos. A gente passou a bola para frente. Agora é como ele [Zema]. Temos representantes estaduais para cobrar — reforçou Ana Paula

 

Insatisfeito

Primeiro parlamentar a citar preocupação com a transferência, Israel voltou a demonstrar insatisfação com o texto original.

— Divinópolis não tem garantia que Romeu Zema vai terminar e equipar o hospital. (...) Foram votos hipócritas. (....) viram a irregularidade, que não tem garantia, mas infelizmente quiseram apostar no erro. Foi um voto covarde, da hipocrisia. (...) uma nova política velhaca — avaliou. 

Em resposta, Ana Paula do Quintino (PSC) pediu ao vereador que olhasse ao painel de votação.

— Está todo verde. Todos votaram favoráveis, menos o presidente que não vota. Quando você fala que essa Casa votou de forma hipócrita, você se inclui — rebateu. 

Comentários