‘Surto preocupante’, define Zema sobre epidemia de dengue em Minas

Governador afirma que situação exige uma série de medidas; Prefeitura confirma caso suspeito de zika vírus em Divinópolis

Bruno Bueno

 

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), se mostrou bastante preocupado com as epidemias simultâneas de dengue e chikungunya no Estado. Em entrevista coletiva na manhã de ontem, o chefe do Executivo mineiro disse que o surto demanda uma série de medidas.

A entrevista aconteceu após o Estado confirmar junto ao Ministério da Saúde Estado de emergência devido à epidemia. Minas lidera o ranking nacional de Estados com maior número de casos das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. 63% dos casos de chikungunya no país são do Estado.

 

Divinópolis

 

A Prefeituras confirmou um caso suspeito de zika na cidade. O número de registros de chikungunya ainda é incerto, já que, segundo o Executivo, diversos novos casos apareceram na sexta-feira e ainda não é possível realizar o quantitativo.

Dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) mostram que 855 casos de dengue já foram registrados. Além disso, são 2.636 notificações. 74 pacientes estão hospitalizados com sintomas da doença.

Os bairros com mais casos são: Santa Rosa (141), Centro (51), Belvedere (34), Interlagos (32), Sagrada Família (30), Paraíso (24) e São José (21).

 Os dados são referentes ao período de 01 de janeiro a 24 de março de 2023.

 

Cenário epidemiológico 

 

O secretário de saúde, Fábio Baccheretti, também participou da coletiva que teve como objetivo divulgar o cenário epidemiológico das doenças em Minas Gerais. Ele alertou para a possibilidade de subnotificação nos casos de chikungunya. 

— Nosso receio mesmo é com a dengue, que geralmente é o que chamamos de morte evitável. Isso ocorre porque o paciente morre por, geralmente, iniciar a hidratação muito tardiamente. Ela causa um processo inflamatório que faz com que a pressão da pessoa caia e, se você chegar muito tarde no hospital, pode morrer — explica.

Fábio ainda afirma que o papel do Estado é treinar a população para buscar esse atendimento rápido, além de orientar os profissionais de saúde a fazerem o manejo ideal da dengue.

— Assim, a gente consegue ver os sinais de alarme dos pacientes para que eles sejam atendidos rapidamente. Com isso, podemos evitar um possível caso de morte — acrescenta.  

  

Colapso?

 

Baccheretti não acredita em um possível colapso do sistema de Saúde.

 

— A dengue tem esse comportamento de se complicar pouco, internar pouco. Nós já prevíamos um aumento, tanto da dengue quanto das doenças respiratórias. Mas vale lembrar que a dengue tem esse comportamento de, a cada três anos, é de vir forte em março e abril — opina.

Para ele, é essencial que todos os profissionais de saúde estejam preparados para atender a população da melhor forma possível.

— Estamos melhor preparados, inclusive repassamos um recurso quatro vezes maior para as UPAs de todo o Estado, ultrapassamos os R$ 250 milhões de repasse neste ano — garantiu o secretário de Saúde.

 

Última epidemia?

 

Zema disse, durante a coletiva, que Minas Gerais pode estar vivenciando sua “última epidemia” de dengue. A partir de 2024, segundo ele, deverá funcionar a biofábrica da bactéria Wolbachia. Insetos modificados serão soltos para reproduzirem com mosquitos Aedes aegypti a fim de estabelecer uma população de insetos que não transmitem doenças. 

— Com essa bactéria, o mosquito passa a não mais transmitir estes vírus da dengue, zika e chikungunya. Esperamos ter uma redução expressiva. Além disso, também fomos informados que o Instituto Butantan e a Fiocruz estão preparando uma vacina que poderá ser ministrada nos próximos anos. Então, muito provavelmente, nós estamos vivenciando nesse ano de 2023, talvez o último grande ciclo dessas doenças —  completou o chefe do Executivo.

A construção da biofábrica, que deve começar no próximo mês, faz parte do acordo de reparação de Brumadinho. Apesar disso, ela será operacionalizada pela Fiocruz e a expectativa é que ela consiga distribuir os mosquitos com a bactéria não só para Minas, mas para todo o país. 

— A previsão é que, ao final de 2024, nós teremos os primeiros mosquitos já sendo espalhados pela região. E lembrando que a expectativa do próximo ano epidêmico seja daqui a 3 anos. Até lá, já teremos esses mosquitos espalhados e boa parte do Estado — disse o secretário de Saúde.

 

Números em Minas

 

Dados atualizados na última semana mostram que Minas é, de longe, o Estado com mais casos de doenças relacionadas ao Aedes aegypti.

O Ministério da Saúde (MS) confirmou na última semana 119.850 casos de dengue em cidades mineiras, o que equivale a quase 30% dos mais de 400 mil registrados no Brasil somente em 2023. Os números de chikungunya impressionam. São 34.421 casos prováveis em Minas, 63% dos mais de 54 mil diagnósticos suspeitos em todo o país.

— Nessa altura do campeonato, não há muito o que se fazer com relação às medidas preventivas, o período chuvoso já passou. Os mosquitos estão soltos e tivemos, infelizmente, um atraso na aquisição do inseticida pelo governo federal — disse o governador Romeu Zema.

 

Treinamento

 

Médicos e enfermeiros de 21 cidades da região Centro-Oeste participaram na última semana de um treinamento realizado pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Divinópolis. A capacitação teve como objetivo o fortalecimento das ações para o enfrentamento da dengue e chikungunya.  A coordenadora  de Vigilância das Arboviroses da SES-MG, Danielle Capistrano,  explica que, diante do cenário de aumento de casos, torna-se  fundamental a qualificação das equipes para execução das ações, ampliando a capacidade e a qualidade da resposta a esse cenário epidemiológico de risco. 

— Atualmente, estamos vivendo um período sazonal das arboviroses. É um período que é esperado um aumento do número de casos, principalmente de dengue e chikungunya. A pasta está fazendo ações nos territórios para qualificar os profissionais da ponta para que possam da melhor maneira atender a população, diminuindo os casos graves e os óbitos por esta doença — destacou.

 

A médica infectologista do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de Minas Gerais (CIEVS-Minas),  Tânia Marcial, destacou que é preciso focar também na vigilância e assistência dos casos de chikungunya.  

— É uma doença bastante preocupante porque ela pode dar formas que chamamos de sub agudas e crônicas. Ou seja, é uma doença que pode durar 10 dias na forma aguda.  Algumas pessoas podem ter a forma crônica em sentir os efeitos da doença por até 3 anos — pontuou a médica.

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