Ópera de uma terra sem lei

CREPÚSCULO DA LEI - ANO IV -  LXXXI

ÓPERA DE UMA TERRA SEM LEI

ABERTURA

O mandrião das Américas abre sua boca imunda e fala: “Pode ser acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça”.

PRIMEIRO ATO: Dos Corpos

I - Bruno Pereira, servidor federal de carreira da Fundação Nacional do índio  (Funai), estudioso e defensor dos direitos dos povos originários, ditos indígenas, ligado à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, funcionário jurado de morte por garimpeiros, chefes de mineradoras, madeireiros e pescadores. Em 2018 foi coordenador geral de índios isolados e recém-contatados da Funai, quando chefiou a maior expedição para contato de índios isolados dos últimos 20 anos. Foi vítima de emboscada no dia 5 de junho no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a sede Atalaia do Norte. Estava em companhia de Dom Phillips;

II - Dom Phillips, jornalista inglês tendo sido colaborador  dos jornais “Washington Post”,  “The New York Times”, “Financial Times”, atuando jornalisticamente no Brasil há mais de 15 anos e estava escrevendo um livro sobre a floresta amazônica apoiado pela fundação Alicia Patterson. Estava colaborando com o jornal “The Guardian” e se encontrava em companhia do indianista Bruno quando foram emboscados. 

SEGUNDO ATO: Do Cenário

Ao norte do país tudo é permitido. Está havendo ecocídio e genocídio indígena perpetrados por madeireiras, mineradoras e garimpeiros.  É prática estimulada pelo mandrião das Américas, um títere invasor a serviço de gangues nacionais e internacionais que atuam em moldes de criminalidade organizada voltada para a exploração predatória e destrutiva da Amazônia. São crimes contra a humanidade, lesa-pátria e contra a soberania do país, cujas práticas tendem a se acentuar por conta dos fundados temores de prisão do mandrião ao término do seu tenebroso mandado. Antes disso o mandrião das Américas exerce  controle sobre as instituições ridículas que lhe dão cobertura, desde pseudo procuradores, pseudojuízes, pseudomilitares, pseudopolíticos e pseudocristãos. Esse universo de pseudos ridículos é fartamente compensado com vantagens econômicas que acabam por se alinharem à práticas de violências e espoliações contra vulneráveis e ampliando o horizonte da pobreza que já se estende a 35 milhões de brasileiros.

ÁRIA FINAL: lacrimosa, que Vejam Todos!

As Valquírias resgatam os dois corpos para que os lobos não os devorem. O simbolismo é latente como as asas das guerreiras: a morte do indianista e a morte do jornalista é a morte da notícia e do ambiente na terra do mandrião. Terra selvagem, sem lei, sem misericórdia, sem vergonha. Uma terra devastada e rica, vendida e resistente, uma terra de sangue e de bosta de gado, de árvore caída e porteira eletrônica. Tudo é desolação para a festa dos jagunços de jatinho e dos sertanejos que cantam em pares em favor da corrupção ímpar. Dois corpos encontrados, milhões de brasileiros perdidos. Uma lástima. Cai o pano. Espera-se que o mandrião caia também.

 

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