‘Meto bala em você’: policiais relatam ameaças a assessor

Reportagem teve acesso aos depoimentos do caso; um dos suspeitos voltou atrás e negou ser do PCC

 

 

Bruno Bueno

 

Agentes da Polícia Federal (PF) confirmaram, em depoimento, as ameaças de uma quadrilha ao assessor especial de Governo, Fernando Henrique Costa. A reportagem teve acesso ao documento, que tem mais de 300 páginas. Um deles, segundo os policiais, teria dito: “sou vagabundo, maloqueiro e meto bala em você”.

Os suspeitos são acusados de exigir parte da verba federal enviada pelo Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo, a Divinópolis. Aldo Nonato Vilafranca, Douglas Alves Montenegro, Sandro Rodrigues Barbosa e Agnobaldo Assis dos Santos seguem detidos no presídio Floramar após serem presos no dia 24 de janeiro em uma emboscada da PF na Prefeitura de Divinópolis. 

 

Agnobaldo Assis dos Santos 

 

No depoimento, “Magno” se identificou como vendedor, com renda de R$ 7 mil por mês. Disse que conheceu Douglas em um grupo de bate papo de corretagem e que foi convidado pelo próprio para receber a comissão de 25%. Douglas teria prometido que passaria um montante para Sandro e Aldo. Também relatou que conhecia Sandro há quatro anos no ramo de corretagem e que conheceu Aldo há uma semana via WhatsApp. 

Magno disse  ainda que foi o assessor que solicitou a reunião da Prefeitura. Também disse que Fernando afirmou que iria pagar a comissão, “mas que estava com medo da polícia e achava que seu telefone celular estava grampeado, por já ter atuado em outros tipos de corrupção”.

Ele disse que não ameaçou o assessor e nem a sua família. No entanto, afirmou que os homens “foram mais ríspidos com a palavra” e que  “na hora do nervosismo a gente falou um monte de coisa mesmo”.

Justificou que participou do esquema por ter uma filha de 18 anos que possui uma doença gravíssima e que precisa arcar com os altos custos de medicamentos. Fernando disse que Magno se identificou, no dia 24 de janeiro, como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC). No depoimento, o acusado negou fazer parte da facção criminosa. "Na hora do calor a gente fala umas besteiras”, relatou. 

 

Aldo Nonato Vilafrança

 

Aldo Villafranca — "Aldinho" — ficou em silêncio durante o depoimento. Fernando Henrique disse à PF que ele o intimidou. 

 

Douglas Alves de Montenegro

 

Douglas se identificou como mentor e autônomo. Disse que foi informado sobre uma verba da Lei Paulo Gustavo que seria destinada a Divinópolis. O interrogado disse que conversou com Fernando e informou sobre os recursos, que teriam sido depositados.  

Afirmou que ganharia o negócio através de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Ainda disse que estranhou a exoneração do assessor especial e recebeu cobranças sobre um possível golpe do assessor. Confirmou que cobrou Fernando Henrique via Whatsapp e que marcou um encontro para resolver a situação. 

Douglas ainda disse que pediu ajuda para Sandro, que trouxe Magno para o esquema. Ainda relatou que somente levou Sandro e os demais para conversarem com o assessor especial, mas não participou das ameaças. Disse ainda não ter ouvido nada do que foi dito na sala. 

 

Sandro Rodrigues Barbosa

 

Sandro se identificou como funcionário do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP),  na função de escrevente técnico judiciário. Questionado sobre o motivo da visita em Divinópolis, disse que conhecia Douglas há seis meses, Magno há dois anos e que não conhecia Aldinho.

Ainda disse que foi convidado por Douglas para conhecer Aldinho. Durante o encontro com o assessor, o depoente disse que conseguiu,  através de seus contatos políticos, uma verba federal da Lei Paulo Gustavo e que estava buscando um acerto financeiro. 

Disse, ainda, que nunca ameaçou o assessor. Um celular estava escondido dentro do banco de um veículo que pertence a Sandro. Questionado, disse que tomou conhecimento destes fatos na delegacia. Por fim, acrescentou que os quatro suspeitos iriam fazer uma divisão do valor da comissão que fosse recebida.

 

Policiais

 

A reportagem teve acesso a dois depoimentos de policiais que atuaram na prisão. Renato Mesquita Pereira disse que compareceu na Prefeitura às 16h com cinco pessoas para acompanhar o segundo encontro dos suspeitos com Fernando.

 

Disse, ainda, que se posicionou na sala ao lado onde o servidor se encontrava, e ouviu, com clareza, tudo que era dito no local. Os demais policiais ficaram em outros pontos estratégicos da Prefeitura observando a movimentação no local. Os suspeitos chegaram no local por volta das 16h35. Douglas e Aldo teriam subido na sala de Fernando às 17h28. 

Segundo Renato, o assessor disse que não tinha o dinheiro do edital e que as verbas já haviam sido repassadas. Ele também confirmou que os suspeitos cobraram a quantia de 25% do valor da verba em formato de comissão. O policial ainda relatou que Magno ameaçou, de morte, a filha, a mulher, a mãe e o pai de Fernando, alegando que “era vagabundo, maloqueiro e que metia bala na cara dele”.

Andre Luiz Alves Garcia também se posicionou na sala ao lado onde o assessor estava e conseguiu ouvir o que estava sendo dito. Ele também confirmou que ouviu Magno ameaçar Fernando e sua família. 

A defesa dos investigados informou que o processo transcreve o resumo da ocorrência e não a totalidade das falas.

 

Habeas corpus

 

A Justiça Federal negou, em fevereiro, o pedido de habeas corpus para três dos quatro homens presos em operação deflagrada na Prefeitura de Divinópolis pela Polícia Federal (PF).

A decisão da 1ª Turma Criminal do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6) foi unânime. Três dos quatro membros da suposta quadrilha solicitaram, por meio de seus advogados, o pedido alegando proteção da liberdade de locomoção, que estaria ameaçada ou restringida de forma direta ou indireta.

Com a negativa, os quatro suspeitos continuam presos preventivamente no presídio Floramar. Três tiveram o pedido de habeas corpus negado e o outro aguarda.  

 

Relembre

 

Em entrevista exclusiva do Agora no mês passado, o assessor especial relatou as ameaças.

— Meu papo com você é reto, eu vim buscar o dinheiro. Você “pilantrou” a gente. Pegou o dinheiro sozinho e agora eu quero minha parte — teria dito um dos membros da quadrilha, conforme relato de Fernando Henrique. 

 

 As extorsões continuaram.

 

— O outro que estava de boné falou que era do PCC, que tinha vindo do morro, que se dependesse dele já tinha me matado. Disseram para eu buscar o dinheiro com o senador ou o prefeito. Na cabeça deles eu estava fazendo parte do esquema — acrescenta. 

Os membros conseguiram informações privilegiadas da vida do assessor.

— Eles falaram que sabiam da minha rotina, onde que eu estava no dia anterior, onde que eu morava, que se eu não mandasse o dinheiro eles iriam me pegar. Um disse que iria cancelar meu CPF — frisa.

 

Mudança

 

O assessor fez contato com a Polícia Federal, que já estava monitorando a situação. Depois das novas ameaças, os suspeitos disseram que voltariam para pegar o dinheiro. Antes de sair do Centro Administrativo, eles foram detidos pelas autoridades. 

Fernando relatou, à época, que estava com medo de novas ameaças.

— Eu estou em uma situação complicada. Mudei minha rotina. Eu saí da Prefeitura escoltado, vim para cá escoltado. Fazia academia de manhã, não posso mais. Tomando banho eu deixo meu box aberto. Estou com medo, mas quando a gente tem um propósito, acho que vale a pena — explicou.

 

 

 

 

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