‘Kabojolândia’

Preto no Branco

No mês passado, em tom de brincadeira, o vereador Rodrigo Kaboja (PSD) gravou, com o presidente da Câmara, Eduardo Print Jr (PSDB), um vídeo em que destacava que suas propostas como deputado estadual envolviam trazer o mar para Minas Gerais e a criação da “Kabojolândia” ‒ uma minidisneylândia. “O parque aquático dos mais avançados do mundo”, ironiza Kaboja, no vídeo. Agora, foi a vez do prefeito Gleidson Azevedo (PSC) entrar na brincadeira. Ao lado de Print, crianças e amigos, eles pulam de alegria ao dizer que não querem passar as férias na Disney ou em Caldas Novas, mas, sim, na “Kabojolândia”. O clima de diversão parece distante da cidade e destoa da realidade dos moradores, especialmente em crise sanitária e econômica. As falas soam desrespeitosas à seriedade dos cargos que ocupam ‒ ou possam vir a ocupar. Para diversão e palhaçada, não é preciso construir a “Kabojolândia”. Divinópolis tem servido perfeitamente como palco.

Greve? Ainda não

Os servidores rejeitaram, durante assembleia geral na sexta-feira, 23, a possibilidade de greve. A decisão, porém, não pode ser vista como uma vitória pelo Executivo. Pela nota divulgada pelo sindicato, o tom permanece o mesmo: insatisfação com a falta de diálogo com a atual administração. Durante o encontro, cinco pontos foram deliberados: 1) rejeição da greve para não prejudicar o atendimento à população durante a pandemia; 2) coleta de assinaturas para um abaixo-assinado apresentando a insatisfação do funcionalismo municipal com a atual gestão pelo não cumprimento da lei do gatilho; 3) paralisação e carreatas para denunciar a indignação dos servidores pela negação do reajuste salarial; 4) produção de vídeos em valorização do servidor e a injustiça do Executivo em negar o direito básico à revisão salarial; 5) protocolar pedido de impeachment do prefeito Gleidson Azevedo "considerando que o chefe do Executivo está descumprindo uma lei municipal".

Vácuo

Na “Live da Semana” da última sexta-feira, o professor e comentarista político Márcio Almeida, em conversa com o jornalista do Agora Bruno Bueno, apontou a falta de liderança dentro de Divinópolis. Ao abordar o tópico da possibilidade de greve dos servidores municipais, Márcio citou a falta de articulação e posicionamento de representantes políticos diante da situação, o que chamou de vácuo de lideranças. Ou seja, os servidores poderiam ter entrado em greve sem quase ninguém se manifestar sobre o assunto ou tentar evitar ou, ao menos, adiar tal decisão.  Quando líder do governo Galileu, Print fez um excelente trabalho ao manter a base do governo unida ‒ especialmente em defesa dos frequentes pedidos de impeachment. Agora, o posto parece vazio. O atual líder do governo, Edsom Sousa (CDN), parece preso a seus monólogos metafóricos e citações filosóficas, sem qualquer poder e autonomia de negociação e convencimento. 

Ligando os pontos

Assim, fica fácil entender a insatisfação dos servidores. Com um Executivo irredutível ‒ a Prefeitura defende a legislação federal de calamidade pública em razão da pandemia para não conceder o reajuste ‒ e a ausência de uma articulação capaz de dialogar com servidores e prefeito, o cenário era, de certa forma, previsível. E, mantendo-se o vácuo, a insatisfação pode durar pelos próximos três anos. Enquanto alguns políticos parecem mais interessados em “gracinhas”, questões que demandam solução e diálogo ficam sem resposta. Esse será o primeiro pedido de impeachment contra o atual governo, mas, se o prefeito continuar preferindo por atitudes de colisão, talvez não seja o último.

Ladrão dentro de casa?

Uma das falas de maior repercussão na última semana foi a do prefeito Gleidson Azevedo em relação aos ex-candidatos à Prefeitura de Divinópolis. No vídeo, ele cita que, caso alguns de seus adversários tivessem assumido a Prefeitura, provavelmente estariam roubando. A grave acusação, rebatida por partidos e prefeitáveis, recai com peso especial sob um deles: Will Bueno ‒ um dos primeiros nomeados da atual administração por sua “capacidade técnica”, como foi justificado à época. Ora, o prefeito contratou então alguém que considera capaz de praticar corrupção? Neste caso hipotético, o prefeito tem razão: ninguém poderia acusá-lo de ladrão… Mas de cúmplice, sim.

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