‘Foi falha dele também’, reconhece Cleitinho sobre Gleidson em denúncias contra Educação
Para deputado, processo de compras foi legal, mas materiais não valem o preço pago
Matheus Augusto
A CPI da Educação volta a se reunir amanhã para a análise de documentos e, caso necessário, a tomada de decisões, como a solicitação de novos esclarecimentos. Enquanto isso, novos desdobramentos surgem. Um deles é a nomeação interina do novo secretário de Educação, Fernando Henrique, que também é assessor do prefeito Gleidson Azevedo (PSC). A nomeação, inclusive, gerou questionamento sobre a qualificação do substituto.
Substituição
O avanço da CPI levou o prefeito a afastar interinamente Andreia Dimas do cargo de secretária da Educação na última semana. Ontem, o chefe do Executivo nomeou seu assessor especial, Fernando Henrique Costa de Oliveira, para assumir o comando da pasta, também de forma temporária. Ele atuará nas duas funções, sem o acúmulo de subsídios.
A nomeação recebeu críticas nas redes sociais. Lohanna França questionou: "Mais de R$ 160 milhões da Educação serão executados por um senhor que não é da área. (...) Quem se lembra do Gleidson prometendo pessoas técnicas e da área ocupando cargos?”.
Há questionamentos sobre a qualificação de Fernando, advogado, para assumir a área da Educação, quebrando a promessa de campanha da atual gestão de um governo técnico.
Ao Agora, a Prefeitura informou que a nomeação é apenas interina até a definição de um especialista.
— Ele é a pessoa de confiança do governo. Conhecimento de gestão ele tem — justificou o Executivo.
A atual Administração reforçou, ainda, que “a equipe técnica da Semed continuará trabalhando da mesma maneira”.
— Neste momento precisa de alguém de confiança para a gestão da equipe — citou.
Fernando assumiu, por exemplo, a Secretaria de Obras e Planejamento, quando Will Bueno, ex-candidato a prefeito, deixou o cargo.
O deputado Cleitinho Azevedo (PSC), irmão do prefeito, discorda da decisão. Para ele, a gestão precisa, de forma ágil, nomear um substituto que com formação na área.
— [Ele] não tem que ficar lá, tem que arrumar alguém da competência da pasta, não que ele não seja competente, mas ele é da área do direito criminal, e não com formação acadêmica na educação. (...) que procurem urgentemente para ficar na Secretaria de Educação até que se resolva isso — defendeu.
Sobre Andreia, Cleitinho prefere não fazer julgamento de caráter e pede um processo justo. O deputado disse que a ex-secretária sempre foi solícita com as demandas por ele apresentadas.
— Não estou aqui para julgar ninguém — disse.
Novos afastamentos?
Desde o afastamento de Andreia, especula-se nos bastidores da política a possibilidade de desligamento temporário de outros servidores envolvidos direta ou indiretamente no processo de compras da administração. Questionado, Cleitinho defendeu que a decisão cabe a seu irmão e à vice-prefeita, Janete Aparecida (PSC), com base nas investigações.
— Se eles [secretário de Administração e procurador] são responsáveis também pelo trâmite das compras da Educação, tem que exonerar. (...) Cabe ao meu irmão, junto com a Janete, fazer o processo administrativo para apurar e tomar as decisões necessárias — frisou.
Janete, inclusive, já se colocou à disposição da CPI para ser convocada e prestar esclarecimento, uma vez que também é secretária de governo, responsável pela execução do orçamento.
Posicionamento
Em entrevista ao Agora, Cleitinho também justificou sua demora para se manifestar sobre as denúncias na Educação. Durante o período, ele estava em Belo Horizonte, onde trabalhava pela aprovação do projeto para reduzir o valor da taxa de licenciamento veicular na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Ao tomar conhecimento das acusações de indícios de superfaturamento em compras, disse ter se inteirado sobre o assunto primeiro.
— O que eu concordo com os vereadores foi a questão do brinquedo e de outros itens. (...) O valor é de quase R$ 10 mil cada e a gente sabe que não vale — comentou.
Para o deputado, houve "incompetência" na aquisição dos materiais.
— Tinha que ter analisado melhor. (...) se eu estivesse lá, eu não compraria — definiu.
Um dos questionamentos do deputado é sobre como foi definido quais atas seriam aderidas e por qual razão.
Cleitinho também defende o trabalho da CPI e a apuração interna em andamento dentro da própria Prefeitura.
— Que puna quem fez algo de errado. (...) meu apoio a todos vereadores, a função é essa mesma. Se tiver alguma coisa irregular tem que punir. Não se brinca com dinheiro público. (...) Prenda quem precisar prender — cobrou.
Ilegal ou imoral?
No entanto, o parlamentar avalia que, até o momento, não vê indícios de desvios no orçamento, apenas compras de materiais por preços anormais.
— Até agora, não tem irregularidades na minha humilde opinião, pelo que eu tive de informação, foi equívoco e incompetência. (...) A ata está legal. Isso tem que mudar na legislação. (...) Não é só em Divinópolis, teve em outras cidades também — defendeu.
Como medida preventiva, Cleitinho, que também acionou o Ministério Público (MP), enviou uma solicitação ao Ministério da Educação (MEC). Ele pede que todas as secretarias de Educação do país sejam notificadas para não aderirem a tais atas nem comprar o brinquedo play ball quádruplo.
Faltou atenção
O deputado estadual, apesar de reconhecer que seu irmão “não estava por dentro de todo o trâmite”, poderia ter sido mais cauteloso.
— Foi falha dele [Gleidson] também. (...) Por mais que não tenha participado, ele deveria ficar mais antenado nesta situação, porque ele é o prefeito — afirmou.
Cleitinho reconheceu a responsabilidade de cada secretaria na aplicação dos recursos, mas que seu irmão, Gleidson, “poderia ter ficado mais atento, foi uma falha”
— Não passo pano para ninguém — pontuou.