‘Covardia’ e ‘barbaridade’: vereadores repercutem denúncias na Vila Vicentina

Polícia Civil coletou depoimentos e periciou pontos da entidade; relatos divulgados com exclusividade pelo Agora revelam atrocidades

 

Bruno Bueno

“Tristeza”, “covardia” e “barbaridade”. Assim alguns vereadores da Câmara de Divinópolis repercutiram a divulgação de denúncias sobre irregularidades na Vila Vicentina, no bairro Niterói. Em pronunciamento durante a reunião de ontem, seis dos 17 vereadores comentaram sobre o caso.

A reportagem do Agora trouxe à tona inúmeros relatos exclusivos de ex-funcionários e familiares de moradores da entidade. Eles denunciam que alguns idosos eram constantemente amarrados, amordaçados, trancafiados e obrigados a realizar suas necessidades básicas, sem qualquer tipo de privacidade, em baldes. Ao menos duas mortes foram atribuídas a negligência, especialmente de duas freiras, já afastadas, que seriam responsáveis pela gestão da unidade.

 

‘Prevaricação’

Ana Paula do Quintino (PSC) foi a primeira a comentar o caso  na reunião de ontem. Ela classificou o episódio como prevaricação e ressaltou que vai fiscalizar a situação.

— Não estou confortável para falar o que vou falar, mas jamais irei prevaricar. A Polícia Civil (PC) deve apurar. É muito triste. Eu, no ano passado, fui escolhida para fazer parte de duas comissões muito importantes: Direito Humanos e Assistência Social — afirmou.

Ela declarou que não vai esconder o que sabe, mas informou que prefere dizer suas informações à Polícia.

— Hoje, está na mão da Polícia Civil. Isso tudo é muito sério. Não estou aqui para omitir nada. Minha fala sobre isso será na delegacia, na PC, assim que eu for convocada — pontuou.

 

‘Barbaridade e covardia’

Hilton de Aguiar (MDB) classificou o caso como “barbaridade”. O vereador também aproveitou o espaço para criticar a secretária de Assistência Social do Município, Juliana Coelho.

— Tem que ter alguém para investigar mais a fundo. Barbaridade ali dentro. Às vezes o prefeito não fica sabendo dessas coisas. A Juliana tinha que saber — disse.

Mesmo com as denúncias, Hilton acredita que o espaço não pode ser fechado, mas, sim, passar por uma reestruturação.

— Amanhã podemos ser nós, nós vamos envelhecer. Não só lá, como em outros lugares. (...) O que aconteceu ali ontem foi uma covardia com os idosos. Fechar não pode porque o pessoal precisa do atendimento. Precisamos colocar pessoas qualificadas ali dentro — opinou.

 

‘Tristeza’

Ademir Silva, do MDB, também defende a continuidade do trabalho, mas cobra ações do Executivo para resolver a situação.

— É com tristeza no coração que vemos uma entidade, que se dedica ao cuidado do mais pobre, idoso e doente, ser denunciada com uma bomba dessa. (...) Não é o caso de fechar a Vila, mas colocar todo mundo lá para fora e vir uma nova turma para administrar. (...) A Prefeitura deve nomear alguém e fazer esse trabalho. Não podemos aceitar o fechamento dessa casa — esclareceu.

O vereador criticou uma suposta demora para descobrir a situação. Em nota enviada ao Agora, a Prefeitura de Divinópolis comunicou que a Vigilância Sanitária não realiza inspeções periódicas nessas entidades e que as ações acontecem por meio de busca ativa ou denúncia.

— Por que só agora a gente vai falar sobre essa irregularidade? Deveria ser uma fiscalização quase que semanal. Será que a diretora não deixava a Vigilância entrar? Precisamos tomar conta dessas pessoas e fazer da Vila Vicentina algo bom. Se jogar pedras vai acabar fechando. (...) As pessoas que mais precisam estão sendo deixadas de lado — enfatizou.

 

‘Absurdo’

Zé Braz (PV) contou que algumas alterações já foram feitas pela diretoria da Vila Vicentina a fim de retomar as atividades.

— É um absurdo. Desde sexta estamos acompanhando de perto essa situação. A entidade apresentou o pedido de desinterdição e a Vigilância está avaliando. Algumas alterações já foram feitas, quanto ao cunho de maus-tratos. Hoje pela manhã estive na Secretaria de Saúde e fui informado que equipes de enfermagem estão indo à unidade para organizar os prontuários e acompanhar os pacientes. Uma farmacêutica clínica está acompanhando a ministração de medicamentos — relatou.

O vereador, que também é enfermeiro, declarou apoio aos moradores da Vila Vicentina e garantiu que vai olhar com carinho para a situação.

— Não podemos deixar de assistir os idosos que estão ali e que contribuíram com a história da cidade. É o momento de o poder público olhar por eles neste momento que elas não conseguem mais se autocuidar. Precisamos zelar pelos idosos que precisam da nossa ajuda — acrescentou.

 

‘Engraçada’

Lohanna França (PV) foi direta ao responsabilizar a Prefeitura pelo ocorrido. Ela cobrou informações sobre o número de fiscalizações realizadas pelo Executivo, por meio da Vigilância Sanitária, no local.

— Está muito engraçada essa operação para não falar das responsabilidades da Assistência Social e da Vigilância Sanitária. As instituições de longa permanência são equipamentos de alta complexidade. (...) É preciso que a secretária de Assistência Social apareça e diga quantas e quais foram as fiscalizações feitas desde o ano passado, quando ela assumiu — contou.

 

A vereadora prosseguiu em suas críticas à Prefeitura.

—  A diretora da Vigilância tem que aparecer e dizer quantas e quais fiscalizações foram feitas até a denúncia. Se fiscalizar só quando houver denúncia vamos viver de escândalo em escândalo com nossos idosos sendo amarrados e maltratados — concluiu.

Edsom Sousa (CDN), líder do governo, rebateu as críticas de Lohanna e disse que a Prefeitura, por meio da Vigilância Sanitária, realizou várias inspeções. 

— Esse governo realizou 19 visitas à Vila Vicentina, sendo quatro reuniões técnicas, seis com equipes e 12 com diretorias — revelou.

 

Polícia Civil

A Polícia Civil compareceu ontem pela manhã à Vila. De acordo com informações da assessoria da PC, idosos que moram no local foram ouvidos e uma perícia completa foi realizada na entidade.

— Em relação ao caso, a Polícia Civil de Minas Gerais informa que assim que tomou conhecimento dos fatos, adotou as diligências necessárias e instaurou um inquérito policial para apurar os crimes que foram noticiados. Na data de hoje (19/04), uma equipe policial esteve no local para realização dos trabalhos periciais, bem como para oitiva dos idosos. Para sucesso das investigações, a PCMG esclarece ainda que prestará mais detalhes posteriormente — afirmou em nota ao Agora.

 

Vila Vicentina

O Agora tentou entrar em contato com a direção da Vila Vicentina para ouvir esclarecimentos sobre o caso. Mais uma vez, a reportagem não obteve resposta até o fechamento desta página, por volta das 18h30 de ontem.

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a direção disse que “promoveu a reestruturação interna e substituiu a coordenação e responsabilidade técnica da entidade”. A instituição também informou que está conversando com a Prefeitura para regularizar as falhas evidenciadas pela Vigilância. Uma proposta de desinterdição também foi enviada ao Executivo.

 

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