Água mole

O número de eleitores que estão com o título cancelado em Divinópolis assusta. Os dados, trazidos pelo Agora na edição desta terça-feira, mostram que 23.579 eleitores estão com o documento cancelado, e outros 1.681 com o título suspenso. Muito além de um simples levantamento, os números servem como alerta. Se, de um lado, conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de jovens entre 16 e 17 anos que emitiram o título de eleitor aumentou 858,7%, em três meses, por outro, quem já exerce o direito ao voto parece não estar nem um pouco preocupado em regularizar a situação. Afinal de contas, o prazo para a regularização do documento termina na próxima quarta-feira, 4 de maio. A grande questão é: o que está por trás de tanto desinteresse do eleitor? Talvez essa pergunta tenha várias respostas, mas é sempre bom relembrar um pouco da história do país. 

Com o golpe militar de 1964, houve a proibição do voto direto para presidente da República, tirando dos brasileiros o direito de cidadão e de democracia. Somente com a proclamação, em 1988, da nova Constituição que então foram estabelecidas eleições diretas com dois turnos para a presidência. Exclusivamente em 1989 o brasileiro voltou a indicar pelo voto direto o presidente da República. O País concretizava com esse evento a democracia. Muita gente pode não imaginar, mas exercer o direito ao voto é de fato um privilégio. Para que hoje a população possa ir às urnas e escolher seus representantes, muitas vidas foram perdidas e outras tantas marcadas pela violência, por toda a eternidade. Talvez seja até justificável, se fosse levar para esse lado, a atual descrença que o eleitor tem da política no Brasil. Pois os brasileiros exercem esse direito “só” há 33 anos, e a maioria não sabe o que e como cobrar. Talvez venha daí uma das explicações para tanto desinteresse. 

Mas, ao mesmo tempo, é de suma importância relembrar que os seres humanos são seres políticos. Alguns são engajados politicamente, outros nem tanto, mas é fato que a política faz parte da humanidade do momento em que uma pessoa acorda até a hora que ela vai dormir. E, os dados apresentados pelo Agora ligam o “alerta”, pois é justamente essa descrença que reflete na sociedade, na coletividade. Apesar de o amadorismo, dos discursos rasos e da falta de técnica ter tomado conta dos Poderes Executivo e Legislativo país afora, é de extrema necessidade que os brasileiros continuem tentando acertar. Afinal, é como diz aquele velho ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Talvez relembrar a história do voto, a sua importância e o quanto ele custou para os brasileiros seja primordial para mostrar que melhorias se fazem com o poder que emana do povo. 

O Brasil vive um momento no qual nunca precisou tanto de eleitores conscientes quanto agora. Hoje, faltando pouco mais de 150 dias para as eleições, a descrença não pode e não deve ter espaço. E, apesar de ter sido o último mal libertado na caixa de Pandora, é só a esperança de dias melhores, os sonhos, o desejo de desenvolvimento e o voto na urna que têm poder para trazer esses tão sonhados e falados dias melhores.

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