Vítima de feminicídio no Belvedere nesta semana é a segunda do ano

Paulo Vitor de Souza 

Mais um crime bárbaro chamou a atenção no início desta semana. Aline Fernandes Pimenta, de 29 anos, moradora do bairro Belvedere, foi mais uma vítima de feminicídio em Divinópolis. O crime, segundo as investigações até aqui, ocorreu por motivo fútil. A vítima foi assassinada pelo enteado, filho do homem com quem Aline Fernandes possuía união estável. O acusado é fruto de um casamento anterior, e, de acordo com testemunhas, a vítima tinha desentendimentos com a ex-mulher do atual companheiro. As duas vinham trocando mensagens por meio das redes sociais. 

Execução

Na tarde da última segunda-feira, 11, Aline Fernandes estava em casa com as filhas, quando Lucas Pereira, 20 anos, entrou na residência e, pela janela, realizou diversos disparos em direção à vítima. Segundo pessoas que presenciaram o crime, o assassino teria proferido palavras em menção à desavença entre Aline e sua mãe. Ele teria gritado antes dos disparos.

 — Você não manda mensagem para minha mãe em lugar nenhum, não — enfatizou. 

Os disparos acertaram a vítima na cabeça. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e, quando chegou, Aline já estava sem vida.

Após a chegada da Polícia Militar (PM), o marido de Aline e pai de Lucas, Carlos Otávio, afirmou aos policiais que de fato Lucas era o autor do crime. Ele ainda confirmou que Aline vinha em constante atrito com sua ex-esposa e que isso poderia ser o motivo da execução.

Logo após os disparos, Lucas Pereira fugiu de moto. A Polícia Militar (PM) foi até a casa de sua mãe, que, segundos os policiais, não soube informar o paradeiro do filho. No entanto, vizinhos informaram à equipe que o autor havia saído da residência há cerca de 15 minutos. As testemunhas também relataram que o acusado foi visto pelo bairro em posse de uma arma de fogo. 

O suspeito continuava foragido até o fechamento desta página, por volta das 18h de ontem. A vítima deixa duas filhas, uma de 10 anos e uma bebê de dois meses. A polícia ainda não relatou os detalhes da investigação, mas informou a abertura de inquérito e sustentou que Lucas Pereira foi o autor do assassinato.

Contra mulheres 

Os crimes tipificados como feminicídio são aqueles motivados pelo ódio à condição de gênero e cuja consequência é a morte da vítima. Uma característica desta modalidade criminosa são os laços de proximidade, geralmente familiar, entre vítima e agressor.  

Em Divinópolis, até o momento, as ocorrências de agressão às mulheres estão abaixo das estatísticas da cidade no mesmo período do ano passado. Já o assassinato de Aline foi o segundo feminicídio ocorrido na cidade neste ano.

— Se comparado com a situação do ano passado, estamos com registro menor em relação aos dados de violência contra a mulher, só que a Polícia Civil (PC) continua combatendo efetivamente as situações que são trazidas para a Delegacia da Mulher. Por isso que pedimos a toda a população e às vítimas para que procurem as nossas delegacias e denunciem — explica o delegado regional, Leonardo Pio. 

O delegado também informou que os crimes de agressão feminina tiveram redução de 18%, se comparados ao número registrado no mesmo período do ano passado. 

Em todo o Brasil, no ano de 2019, o número de feminicídios registrado teve aumento de 7,3% em comparação a 2018, segundo dados oficiais dos 26 estados e do DF. Embora a performance nacional em relação aos homicídios tenha demonstrado queda no ano passado, 19% a menos que 2018, o mesmo não vale para os crimes de ódio contra mulheres. Foram 1.314 mulheres assassinadas pelo fato de pertencerem ao gênero feminino.

Casos como de Aline Fernandes Pimenta revelam que o lar ainda continua sendo um ambiente de violência contra as mulheres. Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos demonstram que as denúncias em relação à violência doméstica cresceram em média 28% até abril deste ano e em relação a 2018. Um dos fatos que podem explicar tal aumento é a maior aproximação entre vítima e agressor em tempos de quarentena.

No Congresso Nacional, há propostas de deputados para a criação de canais alternativos que possibilitem a denúncia por parte da mulher. O aplicativo Direitos Humanos Brasil foi lançado com o intuito de facilitar as denúncias de violência, e, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o 180 poderá ser acionado em breve via WhatsApp.

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