Vale pode assumir obras do hospital regional

Maria Tereza Oliveira

A construção do Hospital Regional Divino Espírito Santo pode ter encontrado um aliado inesperado para enfim ser retomada. De acordo com o vice-prefeito, Rinaldo Valério (DC), a mineradora Vale deve assumir a responsabilidade das obras, que estão paradas desde 2016. Ainda conforme Rinaldo, a ação é compensatória ao Estado, devido aos estragos provocados pelo rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho. O desastre matou cerca de 250 pessoas e provocou um prejuízo milionário para a cidade e todo o estado.

Apesar da informação de Valério, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) negou conhecer a proposta e disse que a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que foi instituído um grupo de trabalho para promover estudos e propor medidas com o objetivo de viabilizar a implantação dos 11 hospitais regionais, incluindo o de Divinópolis.

Compensação?

A forma encontrada para dar prosseguimento nas obras, de acordo com Rinaldo Valério, foi através da compensação. Ao Agora, o vice explicou que, há um mês, esteve com Ian Queirós, responsável por parcerias no Governo Zema (Novo), que lhe garantiu a entrada da Vale na finalização das obras do hospital regional de Divinópolis.

— O Governo do Estado cobra da Vale ações compensatórias pelo desastre ambiental. Dentre elas, está a responsabilidade de finalizar as obras dos hospitais regionais. Hoje [ontem] recebi a informação de que está muito adiantado o processo para que a Vale assuma, já no próximo mês, as obras do Hospital Regional Divino Espírito Santo — comemorou.

Rinaldo ressaltou que a retomada das obras, que deve ocorrer já em fevereiro, é devido à dívida social da Vale.

— O Governo de Minas também já está estudando quem será o gestor responsável por administrar o hospital. Mas pelo menos o término da obra, que é o mais difícil já que o governo não tem dinheiro, está quase definido. O secretário de Planejamento já assinou e falta só mais uma assinatura para fechar o martelo. A Vale já deu sinal verde para terminar a obra — afirmou.

Conforme Valério frisou, a Vale só se responsabilizaria pelas obras, no entanto, não terá outros vínculos com o hospital depois de pronto.

— Já existem algumas propostas e o governo avalia quem vai administrar o hospital. Ainda é necessário avaliar algumas questões, como se o hospital será 100% Sistema Único de Saúde (SUS), ou se será uma parceria, com 60% SUS e 40% por convênios. A parceria facilita manter a instituição, pois a parte do convênio ajuda a manter o hospital — apontou.

Negado

Apesar de injetar ânimo para a população, a informação foi prontamente desmentida pela SRS. A reportagem entrou em contato com a secretaria, que, ao ser questionada sobre o assunto, afirmou desconhecer a questão.

A SRS ressaltou que as últimas informações acerca dos hospitais regionais do Estado se relacionam ao edital sobre tomada de subsídios para apresentação de propostas por parte de possíveis interessados na execução do projeto.

— As atividades relacionadas ao edital foram concluídas no fim de 2019 e o grupo de trabalho elaborou um relatório contendo os principais subsídios entregues e observados e as considerações levantadas ao longo do processo — destacou.

Conforme a superintendência, as informações apresentadas no relatório estão em análise. A previsão é que, até o fim deste mês, o exame das informações seja finalizado, considerando a realidade de cada hospital regional.

— Ainda não há previsão das datas para a retomada das obras, já que as propostas estão em análise — salientou.

Novela

O sonho de ter um hospital regional nasceu há dez anos, com o início da construção, porém está estagnado há mais de três, com a interrupção da obra. As intervenções no local foram paralisadas após a suspensão dos repasses estaduais em razão da crise econômica.

Desde então, foram realizadas inúmeras tentativas de retomar as obras. Várias reuniões com lideranças políticas ocorreram, assim como promessas de verbas, que nunca chegaram. No entanto, o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Ampliada Oeste para Gerenciamento dos Serviços de Urgência e Emergência (Cis-Urg) desenha um acordo com o Estado para dar início ao funcionamento da unidade hospitalar. A expectativa era de que o governo se pronunciasse, ainda em 2019, sobre o modelo de gestão a ser adotado para a inauguração do espaço.

O Cis-Urg, responsável pela administração do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na região, é formado por 54 municípios e conversa, desde 2017, com o Governo do Estado para retomar e concluir as obras do hospital regional. No entanto, com as constantes alegações da falta dos recursos necessários, nenhuma perspectiva concreta foi firmada.

Edital resgata esperança

Ainda em 2019, a publicação de um edital para receber estudos viáveis ao Executivo para a conclusão dos hospitais regionais no estado reacendeu a esperança, tanto na população quanto no Cis-Urg, que retomou as conversas. O objetivo é formalizar um acordo que possibilite a inauguração e funcionamento do espaço.

Segundo o levantamento da SES-MG, o hospital regional em Divinópolis está com 61% das obras concluídas e é a terceira construção mais avançada em relação aos 11 projetos. A estimativa da pasta é que, até o momento, R$ 63 milhões foram investidos na intervenção.

Brumadinho

Completa um ano, no próximo dia 25, o desastre em Brumadinho. A barragem B1 da Mina Córrego do Feijão se rompeu e a cidade foi tomada por lama de rejeitos. 259 corpos foram encontrados na tragédia. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais ainda trabalha na área e, mesmo com quase um ano de trabalho e 95% do território vasculhado, 11 corpos ainda são procurados pelos Bombeiros, o que totaliza 270 vítimas fatais.

Em setembro, foi encontrado o corpo, quase intacto, de um divinopolitano. Carlos Roberto tinha 61 anos e trabalhava na Vale como terceirizado de encarregado de almoxarifado.

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