Treze anos depois

 

Foi num sábado, dia 12 de fevereiro de 2005, que a americana Dorothy Mae Stang se encontrou com cinco homens preparados para tirar a sua vida. Morreu aos 73 anos, com seis tiros, um crime encomendado. Fazia tempo, Stang andava às turras com donos ou invasores de terrenos na Amazônia e, desesperadamente, lutava para que os índios não fossem também dizimados.

Sua morte não foi em vão. Hoje, de posse das terras, os índios vivem em relativa paz e os pistoleiros foram condenados a penas que variaram de 17 a 30 anos. O crime teve repercussão mundial, com cobranças fortes da comunidade internacional para que fosse apurado e os criminosos sofressem os rigores da lei. A americana Stang morreu como várias outras pessoas que tentam resolver um problema que nem o brasileiro sabe na verdade se realmente é dele.

E não sabe porque, na verdade, já foi bastante difundido um boato de que o mapa da Amazônia não existe nas escolas dos Estados Unidos, onde no lugar dela estaria escrito “patrimônio universal”. É uma fake news antiga, mas que não deixa de ter um fundo de verdade. Até porque a grande mata ainda “segura” este planeta com o oxigênio que produz e com sua diversidade de plantas, raízes, água e ar, transformando-se no pulmão do mundo. Mesmo assim, cerca de 20% já desapareceu por causa dos desmatamentos e da transformação do meio ambiente em locais bons e seguros para a pastagem ou plantação de grãos.

Muito longe do local da morte de Stang e no meio de uma cidade com mais de 6,5 milhões de habitantes, outra mulher foi morta por defender princípios parecidos. Como Stang, a vereadora Marielle Franco (PSOL) teve a vida ceifada pelos profissionais do crime no Rio de Janeiro.

Ninguém da família ou a sua companheira falaram nada sobre ameaças que Marielle provavelmente estava recebendo. Mas isto virá à tona brevemente na apuração do caso e na quase certa prisão dos assassinos. Marielle, faz tempo, marcava presença em todas as atividades ligadas aos direitos da mulher e da diversidade de gênero. Militante do PSOL, um partido de ultraesquerda, batia repetidamente na tecla de que as perseguições aos da sua raça sempre foi uma constante no país e que as chamadas minorias precisavam de maior representatividade.

Em seu primeiro mandato, foram mais de 45 mil votos, sendo a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro. Com esse mesmo número de votos, poderia pleitear uma cadeira no Legislativo Estadual. Este, como a própria família chegou a falar, seria o seu caminho.

Só que os interesses que ela deve ter contrariado em sua luta diária foram maiores do que ela e seus assessores previam, daí a falta de segurança ou de medo, mesmo porque sempre morou no Complexo da Maré, local perigoso e que reúne várias favelas. Como em outros lugares do Rio, o lugar é disputado por gangues, traficantes e milícias armadas. Um local impenetrável, principalmente à noite, e por lá a polícia não se aventurava entrar.

O que se espera das autoridades que agora tomam conta da segurança no Rio de Janeiro é mais força, sangue nos olhos e falta de respeito com o bandido. Mas tudo isto deve ser feito com planejamento. Por esta razão, convém que crimes como o de Marielle, depois de resolvidos, sirvam de lição, pois todos os dias pessoas de diversas situações e trabalhadoras como ela morrem sem qualquer comoção. Neste eixo de sofrimento, tentando resolver problemas, pelo menos um policial é morto todos os dias. Só que neste caso, a não ser os familiares, os companheiros são os únicos que comparecem aos velórios e protestam pelo ocorrido. O povo se cala, pois parece certo a alguns ativistas de direitos humanos que um policial morre porque também mata. Simplista e altamente desumana a afirmação.

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