Solta-nos Barrabás

 Augusto Fidelis 

Naquele tempo, depois da sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus foi levado a julgamento pelas elites. É verdade que esperavam por um Messias, que libertasse a Judéia do jugo romano, por meio das armas, mas o Nazareno não lhes interessava. Jesus congregava as massas, no entanto, seu discurso não condizia com os anseios dos poderosos.  

Quando lhe apresentaram uma mulher adúltera, apanhada em flagrante delito, em vez de mandar que se executasse a lei, ele dissera: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E ainda teve a ousadia de escrever no chão os pecados dos acusadores. E eles se retiram, um a um, a começar pelos mais velhos. Não desistiram da cilada; simplesmente esperaram o momento certo para a vingança. 

Por isso, perante Pilatos, as elites insuflaram as massas a gritar com toda força: “Crucifica a este e solta-nos Barrabás”. Lembraram ainda ao governador: “Se soltar a este, não és amigo de César”. Ora, se era justamente a César que combatiam, por que mudança de opinião tão repentina? Sabe-se que Barrabás foi preso por ter liderado uma revolta, com grande derramamento de sangue, como interessava às elites. Os dirigentes da época precisavam da demonstração de força das massas, para que pudessem negociar com os invasores a manutenção das suas benesses em troca da contenção dos revoltosos. 

Jesus dizia coisas que realmente não interessavam: “Amai vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai aos que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam. Ao que vos ferir numa face, oferece-lhe também a outra (...). O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”. Como se isso não bastasse, o Mestre disse mais: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; dai, e vos será dado... com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos também vós”. 

Condenado à morte e levado ao suplício da cruz, os seguidores de Cristo se mantiveram à distância, olhando essas coisas. Foi Jesus quem disse: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”, mas o povo, ávido de sangue, prefere Barrabás. O mundo está em plena discórdia, dominado pela violência nas mais diversas formas, e ninguém toma providência. O conselho é: “Não se pode tomar nenhuma atitude em momento de grande comoção”. Passada a emoção, a tragédia é esquecida e o campo fica aberto para outra maior.  

Enquanto a maldade avança, as pessoas puras de coração se mantêm à distância, sem reação. Porém, mesmo que tudo pareça dominado pela sombra do mal, haverá sempre uma luz para dissipar as trevas e mostrar o caminho a ser seguido pelos bons. Mais uma vez dobram os sinos anunciando a Páscoa, porque Jesus ressuscitou. E ele reinará para sempre. Aleluia! 

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