Sociedade dos desprezíveis

RODRIGO DIAS 

Sociedade dos desprezíveis

Há mais ou menos uma semana ouvi uma expressão que não sai da minha cabeça: “sociedade dos desprezíveis”. O termo vem sendo usado para nomear um grupo de pessoas que se acentuará num futuro não muito distante. Nesse artigo vou me ater a uma das possíveis particularidades desse grupo.

Na “sociedade dos desprezíveis” estarão presentes muitos de nós. Pessoas que literalmente serão engolidas pelos avanços da tecnologia, advindos da automação dos processos, pela robótica, pela inteligência artificial.

Num mundo ideal, esses avanços representam otimização de tempo e recursos, tornando mais ágeis, seguros e econômicos determinados processos, principalmente nas indústrias.

O resultado: mais máquinas e menos postos de empregos, o que deve acontecer em muitos outros setores. No campo, por exemplo, já tem grandes colheitadeiras automatizadas, ligadas via satélite (GPS), e que conseguem fazer a colheita da safra sozinhas, sem interferência humana.

Engana-se que tais mudanças vão atingir só o “chão de fábrica” ou outras profissões mais braçais. Por meio da inteligência artificial já se tem notícias de programas específicos para a produção de conteúdo, textos. Daqui a pouco já não sou eu que escrevo, mas um programinha esperto de computador.

Utilizando-se de algoritmos, no mundo virtual já é comum a utilização de “robôs” que estão aí interagindo com a gente. A coisa é tão séria que recentemente uma conhecida agência bancária atualizou sua inteligência artificial da central de relacionamento ao cliente para deixá-la apta a reagir a casos de assédio. Ela, a inteligência artificial, não é uma mulher, e sim um sistema, que agora tem reações ao assédio.

Além do lucro, todos esses avanços visam dar comodidade a nós seres humanos. Só que isso não virá na equidade necessária. E tais avanços vão empurrar, cada vez mais, uma massa de gente para a “sociedade dos desprezíveis”.

Pessoas que vão ter seus empregos tomados pelos avanços tecnológicos. Pessoas que não se adaptarão a essas mudanças e que, portanto, não conseguem interagir com esses novos sistemas e, por último, pessoas que por uma questão de renda e de extrato social não conseguirão se beneficiar dessas novas tecnologias, tornando-se analfabetas digitais e tecnológicas, excluídas de uma nova era, de um novo salto evolutivo da humanidade.

Daí a necessidade de os governos, entidades de ensino federais e outros entes mais estimularem a inclusão digital e tecnológica.

De acordo com dados do IBGE, veiculados pela Agência Brasil, o celular continuou sendo o equipamento mais usado para acessar a internet, o que ocorre em 99,5% dos domicílios. Na sequência vieram o computador (45,1%), a televisão (31,7%) e o tablet (12%). No caso do computador, houve redução de três pontos percentuais e, no de tablet, de 1,4, mas, no uso da televisão, a alta foi de 8,4 pontos percentuais. É bom que se diga que em muitas regiões ainda há problemas com a estabilidade e trafegabilidade dos dados, além de não contarmos aqui com a tecnologia 5G.

As mudanças virão e com elas seus desafios. Entre eles, diminuir os efeitos da “sociedade dos desprezíveis”. Se o futuro é logo ali, é urgente, também, essa discussão.

Progresso é desenvolvimento, não só o econômico, mas o humano também. O desenvolvimento humano só é pleno se incluir a todos.

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