Setembro Amarelo: falar é sempre bom

Pandemia preocupa especialista por possível aumento de casos de suicídio; ações criam alerta

Paulo Vitor Souza 

O suicídio é um problema em escala global. Por questões éticas, a mídia pouco fala, as pessoas desconversam, e o assunto continua sendo um tabu para muita gente. No mundo, a cada ano, cerca de 1 milhão de vidas são perdidas por causa da sucessão de fatores que levam uma pessoa a cometer o ato, fora a subnotificação. O Brasil está na contramão da tendência mundial, registrando aumentos sucessivos nos quantitativos. No país,  12 mil suicídios são registrados anualmente. O diagnóstico tardio de transtornos mentais, a falta de assistência social e o tratamento inadequado dificultam o combate ao autoextermínio. O que mais impressiona é que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, mas, para que isso aconteça, são necessárias condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional.

Prevenir 

Dez de setembro marca o Dia Mundial de Prevenção e Conscientização. A data integra as atividades do Setembro Amarelo, mês dedicado à luta por uma sociedade mais sensível aos problemas enfrentados por cada pessoa. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) criou programa e redes de voluntários para a assistência psicológica e social de pessoas que sofrem de transtornos ou estejam em situação de vulnerabilidade, já que os números dizem que o suicídio cresce não somente por questões demográficas e populacionais, mas também por problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um e que estimula a autodestruição. É o que explica a psicóloga Bárbara Fernandes. 

— O suicídio é um fenômeno complexo e causado por múltiplos fatores. Desta forma, numa situação de pandemia, por exemplo, o número de casos poderá aumentar, porque eles estão relacionados a diferentes fatores como isolamento, o medo, a desesperança,  o  acesso reduzido ao meio comunitário e religioso e o acesso reduzido ao tratamento de saúde mental — pontuou.

Sobre a dificuldade de abordagem, Bárbara explica que a reflexão acerca do assunto trouxe avanços no combate às mortes. 

— Ainda hoje é comum que as pessoas evitem falar sobre o suicídio, porque existem bloqueios em relação a esse assunto, como se falar sobre suicídio fosse deixar em evidência quem está depressivo.  Porém, falar sobre o tema pode abrir novas perspectivas e até alertar a sociedade. Um exemplo desta importância é que desde 2015, quando se fala sobre Setembro Amarelo no Brasil, o número de casos já diminuiu cerca de 30%. Por isso é tão importante conscientizar a sociedade, as famílias, as escolas para que todas estejam atentos aos menores sinais e preparados para dar o suporte necessário e o tratamento que trará um novo olhar sobre a vida do indivíduo adoecido — disse.

Desafios da covid

O mundo está sobre a expectativa do fim das medidas que separam a todos. E a preocupação de profissionais da psicologia é que o afastamento aumente a incidência de transtornos psicológicos que possam culminar em suicídio. Isso porque, além do isolamento possibilitar o aumento de transtornos autodestrutivos, ele limita as ações de atendimento.

Ações

Nesta semana, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) anunciou a campanha em apoio ao Setembro Amarelo. A ação busca conscientizar a população sobre a prevenção ao suicídio, a importância da abordagem do tema, além de contribuir para a promoção da saúde mental e atenção integral dos servidores e da população em geral. O chefe da PCMG, o delegado-geral Wagner Pinto, destaca a importância de disseminar informações para prevenção ao suicídio.

— Nossa intenção é dar apoio e ampliar as possibilidades para que as pessoas possam lidar com as dificuldades e, com isso, evitar fins trágicos que os abalos da saúde mental podem provocar — destaca.

A Polícia Civil, por meio da Diretoria de Recursos Humanos, presta ajuda aos servidores; a população em geral também pode acionar o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo número 188.

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