Ser é o que importa

Deus nos livre daqueles que se consideram santos! Escreve, em tom exclamativo, Anthony de Mello, em Autolibertação. Santa Teresa dizia: “Ese señor [mulher também], si no fuera tan ‘santo’, seria más fácil convencerle de que anda equivocado”. Somos pessoas humanas, fruto da história e de uma cultura, por mais globalização que haja hoje em dia. Já não devemos dizer moradores de rua, mas em situação de rua, devendo-se fazer de tudo para a autolibertação. Todo ser humano o é em situação. Ser é o que importa. No estar aqui e agora. A pessoa está sempre em evolução, por mais sedentária que seja. Pelo menos suas células se renovam. Ser humano a gente define. Indivíduo a gente descreve, na medida do possível. Estratificar o cidadão seria como congelar uma onda. Congelada, deixa de ser onda, é apenas uma figura, uma imagem. Que o digam os surfistas, que deslizam numa onda, de pé, sobre uma prancha.

Não temos de seguir pessoas iluminadas. Temos de nos tornar seres iluminados. Olhar para a Lua, e não para o dedo que aponta para ela. Com relação às crianças, aprender com elas. Enxergam as pessoas sem rótulo pré-fabricado, reagem com espontaneidade. Por isso, estão mais perto de Deus. O melhor teólogo, segundo Anthony de Mello SJ, é o que sabe explicar a teologia como Jesus: por meio de contos, sem conceitos. Como fazia Jesus com as parábolas e com seus feitos na vida cotidiana. Mais sensibilidade, menos ideologia. Ser pobre não é uma condição de felicidade, mas de injustiça.

Ser é o que importa. O que é o sofrimento? É querer que as coisas aconteçam conforme a nossa vontade. E não: “Seja feita a Vossa vontade”. É o desejo contrariado. Por que justamente comigo?!... O desejo choca-se com a realidade, e desse choque nasce o sofrimento. Dúvida, obscuridade. Não temos de renunciar a coisa alguma, mas não devemos nos apegar a nada. Procuramos, fora, pela felicidade latente dentro de nós. Importa torná-la patente.

 [email protected]

Comentários