SEMANA DA LEGALIDADE

Inocêncio Nóbrega

        Agosto, 25, soldados nos quartéis comemoram seu dia. Parada militar, ao som de dobrados, perfilados diante dos oficiais superiores, a fim de ouvirem a Ordem do Dia, maquiada de patriotismo. Lá fora o povo lembra a Campanha da Legalidade.  Em 1961, numa sexta-feira desse mês, o então ministro da Guerra, Odílio Denys, pela manhã pregou fidelidade à Constituição e à tarde disseminou o golpismo, com apoio de seus colegas da Marinha e Aeronáutica, ao vetar a posse do vice-presidente João Goulart.  Janio Quadros havia renunciado horas antes à Presidência da República.

         A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora. Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, pela madrugada do sábado seguinte, dos porões do Palácio Piratini, através das rádios Farroupilha e Guaíba, em contundente pronunciamento denuncia: “A politicagem e os sentimentos inferiores e golpistas de alguns círculos dessa República”.  E conclui: “Defendemos a ordem legal, a Constituição, a honra e dignidade do povo brasileiro”. Por trás dessa manobra, Carlos Lacerda, a serviço dos EUA.

       Por ordem federal as duas emissoras foram fechadas, mas o discurso incendiário do governante gaúcho repercutiu, enchendo de patriotismo e emoção a alma nacional, até, varando fronteiras. Dia 27, as transmissões foram restabelecidas, pois Brizola requisitou os cristais, dando-se início a Cadeia da Legalidade, formada por 16 emissoras.  Cedo, atingiu a 104.  Ao mesmo tempo, a Resistência distribuindo pistolas à população porto-alegrense.

        Manifestações, contra a prepotência militar, pipocavam das pequenas cidades às capitais. Comícios, passeatas, declarações de altas personalidades públicas, jornalistas, sindicatos, estudantes. Mar. Lott pregou resultado democrático para a crise, porém foi preso. Na Cinelândia, não coube tanta gente. Arraes reage em Pernambuco; Pedro Gondim na Paraíba, pondo as ondas curtas da Rádio Tabajara na rede legalista; Parsifal Barroso no Ceará. Chagas Rodrigues no Piauí, não aceita solução extralegal e sofre represálias; 2º BC de S. Paulo vê com simpatia a causa de Goulart; líderes sindicais são detidos em Minas Gerais. A Igreja lança veemente proclamação. Mauro Borges garante descida de Jango em Goiás, que voltava de Singapura, acaso houvesse algum impedimento.  Belém, Natal, Aracaju, Maceió, Salvador, também protestam.

         Machado Lopes, Comandante do III Exército, (28/8) adere ao movimento e o Exército já não tem como bombardear o Palácio do Governo, conforme prometera. Brizola não larga a metralhadora. “Que nos esmaguem! Que nos chacinem! Chacinado estará o Brasil, contra a vontade de seu povo” - disse. Encurralados, os militares se reconciliam e Jango assume, após 12 dias de tensão, embora sob um sistema parlamentarista, alternativa encontrada para que voltasse a paz, entre os cidadãos brasileiros.

Jornalista

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