Se fossem só as denúncias...

 

A cada reunião ordinária da Câmara, a população divinopolitana fica mais estarrecida com algumas declarações dos vereadores. Sem repertório, alguns apelam, jogam para a galera, atiram para todos os lados e, assim, perdem a oportunidade de ficar calados. Há cerca de duas semanas, o vereador Ademir Silva (PSD) não poupou críticas ao prefeito Galileu Machado (MDB) e admitiu trocar votos em favor do Executivo por obras. Desta vez, quem se “estrumbicou” — para usar termo usado por Ademir — foi Renato Ferreira (PSDB).

Em seu pronunciamento na quinta-feira, 28, o parlamentar, que faz parte de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga uma acusação grave, disse que as denúncias não deixam a cidade evoluir. Renato afirmou que são muitas denúncias que a Casa recebe e que, muitas vezes, tais denúncias não levam a lugar nenhum, mas que é obrigação dos parlamentares fiscalizarem e investigarem. O vereador defendeu ainda que quem denunciar algo que não “der em nada” seja punido, pois são as muitas denúncias recebidas e que, na visão dele, não deixam Divinópolis crescer.

Seria ótimo se fosse só o número de denúncias que os vereadores recebem que travasse o crescimento da cidade. Quem dera a todos os divinopolitanos se fossem só as investigações que os parlamentares fazem que não deixassem Divinópolis se desenvolver. Nesse angu, tem muito mais caroço do que se pensa. Se o problema da cidade fosse o número de denúncias, seria muito fácil de resolver e aí, quem sabe, Divinópolis voltaria para os trilhos do desenvolvimento? Mas o problema de Divinópolis está além das denúncias. Está além das investigações. Aliás, são as denúncias — pelo menos a grande maioria delas — que podem ajudar a cidade a voltar a crescer, basta ter um pouco de boa vontade.

O colunista Bob Clementino trouxe na sua coluna de quarta-feira, 27, frases ditas pelos vereadores durante a votação de um projeto de lei. São frases como: “Tem vereador que mama nas tetas da Prefeitura e depois cospe na cara do prefeito”; “Quando eu disse que tem vereadores que têm de ter vergonha na cara, eu me dirigi aos que têm cargos comissionados dentro da Prefeitura”; “Sobre os vereadores que mamam nas tetas do governo e depois cospem na cara do prefeito, foi dito: ‘tem de entregar todos os cargos comissionados que têm [na Prefeitura], se fossem homens de caráter’”.

Declarações como estas seriam o suficiente para a Câmara iniciar uma investigação pesada no Poder Executivo e cumprir um dos papéis que lhe cabem: fiscalizar. A declaração de Ademir, ao admitir que troca votos pró-Galileu por obras em sua região, também seria alvo de investigação, mas os parlamentares preferem o silêncio, preferem tapar o sol com a peneira e manter tudo como está. Afinal, tudo está em perfeita harmonia.

Ou seja, a culpa de Divinópolis estar do jeito que está são das denúncias. Não são os conchavos, as promessas políticas irrealizáveis, o nepotismo, as pessoas despreparadas em cargos importantes, a oferta de cargo em que a pessoa não “precisará trabalhar”, a falta de um projeto sério de cidade, a ausência de expressão política em Belo Horizonte e Brasília...

O jeito então é pedir a Deus para que essas denúncias parem de ser feitas e assim Divinópolis volte a crescer.

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