Rinaldo rompe silêncio, mas versão não coincide com a de vereadores

Maria Tereza Oliveira

Os bastidores da política divinopolitana têm fervilhado nas últimas semanas. Isso porque, desde que veio à tona um encontro entre o vice-prefeito, Rinaldo Valério (DC), e o vereador Eduardo Print Jr. (SD), muito se especulou a respeito. Após mais de uma semana, ontem, o vice rompeu o silêncio e contou seu lado da história. Rinaldo alegou ter sido traído pelo prefeito Galileu Machado (MDB) e insinuou uma trama para que Print seja o vice de Machado no próximo pleito. Quase imediatamente, Eduardo rebateu as acusações na Tribuna Livre da Câmara.

Tudo começou na véspera da votação das três denúncias de infração político-administrativa contra Galileu apuradas pela Comissão Processante (CP). A visita do vice-prefeito ao presidente da CP levantou muitas perguntas e uma suposta traição de Rinaldo a Galileu ficou no ar.

Após mais de uma semana de silêncio, Rinaldo abriu o jogo e revelou detalhes da fatídica noite e como anda sua relação com Galileu.

Negociata?

Rinaldo Valério negou veementemente qualquer tentativa de influência de votos contra Galileu.

— Em momento algum tive contato com presidente ou outros membros da comissão CP. Eu optei por não me envolver. No entanto, na véspera da votação, assessores do vereador Sargento Elton (Patriota) me procuraram e disseram que o Print gostaria de conversar comigo. Eu notei que havia uma negociação em volta disso — lembrou.

De acordo com o vice-prefeito, aquela seria a última oportunidade antes da votação para que ele esclarecesse ao vereador que não estava envolvido em nenhuma negociação. E este teria sido o motivo que o levou à casa de Eduardo.

— Fui à casa dele, mas em momento nenhum pedi para ele votar pelo impeachment, fiz alguma negociata ou ofereci algum cargo. Tanto que ele [Print] disse ao prefeito que eu não havia feito propostas para ele. Como eu vou à casa do líder do Governo, que tem todos os seus amigos empregados na Prefeitura, pedir voto no impeachment e não oferecer nada para ele? — cutucou.

Valério salientou que seu intuito era esclarecer ao edil que ninguém estava autorizado a negociar por ele.

— Se outras pessoas estavam negociando, não tinham minha autorização. Eu não fui lá para pedir nada, fui para ouvi-lo — alegou.

Demitiria

Após ser revelado que quem teria procurado os vereadores e o vice-prefeito eram assessores do Sargento Elton, alguns parlamentares se manifestaram. Print e Renato Ferreira (PSDB) disseram que, no lugar de Elton, demitiriam o assessor.

— Se é um assessor meu envolvido em negociata, em articulação inescrupulosa e indecente como foi essa do impeachment, ele estaria na rua no outro dia. Não duraria mais uma hora em meu gabinete. Não preciso desse vexame de cometer injustiça contra uma cidade inteira para querer fama na política — destacou Print.

Armação?

O vice-prefeito disse ter ficado surpreso com a repercussão que a visita ganhou.

— Depois vi que até a imprensa tinha sido comunicada. Isso me leva a pensar que, como eu não estava fazendo nada demais e ainda assim fui taxado como traidor do prefeito, o vereador Eduardo Print Jr. tem interesse de ser vice na chapa com o Galileu. Então ele armou para ficar ruim para mim e ele ocupar este espaço — acusou.

Rinaldo afirmou que o suposto plano deu errado, pois ele não fez negociações.

— Ainda assim, a repercussão foi ruim porque alguns meios de comunicação disseram que eu fui trair o prefeito Galileu — lamentou.

Galileu é vitima?

Questionado pela reportagem se ele achava que o prefeito também seria vítima da suposta armação, o vice disse não saber.

— Não sei se ele foi vítima ou se foi avisado antes, se foi conivente... Mas eu estive com ele e avisei o que fui fazer na casa do Print, mas parece que ele não me deu bola — revelou.

Traição?

Uma das principais consequências que o mal-estar entre vice e prefeito trouxe foram as exonerações de pessoas ligadas a Rinaldo Valério. Desde que o assunto veio à tona, o secretário de Esportes e Juventude (Semej), Everton Dutra, e os assessores do vice-prefeito, Olinto Guimarães Neto e Marta Helena Tavares, foram exonerados de seus cargos.

Sobre o assunto, o vice lembrou que, apesar das três recentes exonerações, Galileu já teria dispensado outros servidores ligados a ele.

— Por exemplo, ele exonerou oito servidores todos ligados a mim e nenhum ligado a ele. Quando ele fez isso, me traiu. Exonerou por contenção de despesas, mas dias depois ele contratou outras pessoas para os cargos — lembrou.

Rinaldo também recordou a campanha eleitoral do ano passado, quando foi candidato a deputado estadual.

— Durante uma convenção da minha campanha, o Galileu, fazendo uso da palavra, pediu votos para Adair Otaviano (MDB) — contou.

O vice disse que o relacionamento dele com o chefe do Executivo estava estremecido há mais de um ano. Apesar disso, Rinaldo disse que irá permanecer no cargo até o fim do mandato.

Contra-ataque

Print, no uso da Tribuna, criticou falas de Rinaldo e fez revelações sobre a situação. Ele disse que não gostaria de ter de voltar a tocar neste assunto e requentar pauta, pois queria falar de outros temas.

— Mas as entrevistas constrangedoras dadas pelo senhor vice-prefeito, Rinaldo Valério, foram de uma vergonha tão grande que me obrigaram a falar algumas coisas. Eu nunca fui de atacar ninguém. São sete anos como vereador e conquistei muito pela cidade. Trabalhei, e trabalho muito, sem precisar citar o nome de nenhuma pessoa para aumentar minha importância — lembrou.

O vereador disse ainda que o vice teria passado dos limites e criticou a viagem de Rinaldo logo após o processo de impeachment.

— O vice-prefeito estava no Rio de Janeiro para, segundo ele, esfriar a cabeça. Há uma semana, disse para todos que quisessem ouvir que foi um grande mal-entendido e queria se sentar com o Galileu e vereadores para explicar tudo. E hoje [ontem] passa esse vexame — criticou.

Sem armações

Sobre a acusação de que queria ser o vice de Galileu na campanha do ano que vem, Print disse que não precisa de armações para tal.

— Agradeço por assumir para todos que eu tenho condição de atingir um cargo tão alto. Felizmente, em meus mandatos, consegui muitas coisas para Divinópolis. Foram mais de R$ 6 milhões de emendas em escolas, postos de saúde, calçamentos etc. E isso tudo que eu citei prova que não preciso de nenhuma armação para alcançar voos mais altos — enalteceu. 

O parlamentar ainda negou ter participado de qualquer armação e desafiou Rinaldo a provar isso.

— Acusação grave que mostra um desespero tão grande da parte do vice-prefeito, chega a dar pena. E ele terá que provar isso, porque é uma acusação caluniosa e que fere minha imagem. Armação é uma coisa que eu não faço e nunca farei, porque não é do meu caráter. Eu tenho imagens que provam exatamente o contrário do que ele disse. Imagens de articulações na porta da minha casa, conversas nos corredores e até uma "minifesta" na porta do meu prédio por parte dos assessores que o levaram até a minha casa. Minha índole nunca esteve em xeque, ao contrário da do vice-prefeito — cutucou.

Sargento

O Agora tentou contato com Sargento Elton sobre as acusações de negociata envolvendo seus assessores. Através de assessoria, a reportagem foi informada que ele não falaria nada além do que já tinha sido publicado na semana passada pelo colunista Bob Clementino. Na edição de sexta-feira, 13, foi divulgado o seguinte trecho: “segundo os assessores do vereador do Patriota, o edil Print Junior teria afirmado a eles que se o pedido de impeachment alcançasse 11 votos, o 12º seria o dele”.

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