Revolta da vacina

João Carlos Ramos

Em 1904, durante o governo de Rodrigues Alves, estabelecia-se o caos. As doenças infecciosas proliferavam, principalmente na população do Rio de Janeiro, quartel-general da república brasileira de então. A tuberculose, peste bubônica, febre amarela, varíola, malária, tifo, cólera etc. desafiavam a ciência e preocupava de forma excepcional, mentes esclarecidas como o governante, alguns signatários e parcela significativa de classes distintas. O Rio de Janeiro possuía 800 mil habitantes e realmente temia-se que um surto gigantesco com o da peste negra, que dizimara quase a metade da Europa no Século XIV, semelhantemente, viesse dizimar todo o país. Discursos inflamados de alguns visionários, que viviam acima do seu tempo, acirravam espíritos nobres e perseverantemente inquietos com vocações científicas. Foi durante esse quadro que surgiu OSVALDO CRUZ, o grande médico, cientista e bacteriologista brasileiro.

Formado no Instituto Pasteur (Paris), foi discípulo do famoso Émile Roux. Diretor-geral da saúde pública, apresentou ao presidente Rodrigues Alves a proposta, logo aceita, da vacinação da população brasileira. Foi um "Deus-nos-acuda”, pois uns, movidos por interesses políticos, faziam oposição exacerbada.

Sabemos que outros iam para o outro extremo, sugerindo o uso da força policial para conter os opositores. Surge então a REVOLTA DA VACINA, que deixou um saldo de 945 pessoas presas na ilha das cobras, 30 mortos, 110 feridos e 461 pessoas deportadas para o estado do Acre.

Hoje, vivemos outras realidades, porém com a mesma selvageria de ambos os lados. Os governantes são eleitos com propostas mirabolantes e logo, caem em descrédito, por inúmeros motivos, dentre os quais a oposição do "quanto pior, melhor". Outro motivo são as cruéis divisões internas por causa dos "despojos"... Outra realidade é aquela que se refere ao sistema educacional que, como diz Paulo Freire, se esqueceram que a escola começa em casa.

Primeiramente o salário e depois o compromisso com o ensino. Multiplicam-se as escolas e subtraem a qualidade... É comum, professor universitário que detesta livro e, consequentemente, possui um "português horrendo”... No tocante ao povo, assim como durante a REVOLTA DA VACINA, quando queriam a todo custo a "cabeça do benfeitor", também o futuro nos dirá que todo o poder emana do povo, mas também toda idiotice. As religiões em geral pregam a caridade e vivem no paraíso terrestre, condenando ao inferno todos os defensores do povo que, por sinal, precisando de líderes, condenam seus benfeitores. Outra realidade é a dos pobres ateus, que não creem em nada porque nada há que traga consolo à mágoa, como diria Augusto dos Anjos.

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