Quem somos?

O Brasil viveu ontem, mais uma tragédia. Adolescentes invadiram uma escola em Suzano, grande São Paulo, e mataram pelo menos dez pessoas, e feriram 23 – número confirmado até o fechamento desta edição. Assim como o dia 25 de janeiro, 13 de março era para ser apenas mais uma quarta-feira comum. Os alunos da escola acordaram, se arrumaram e foram para a aula. Alguns levados pelos seus pais, outros sozinhos, e era para ser apenas mais um dia. Ontem, os pais de seis adolescentes receberam seus filhos no caixão. Ontem, seis jovens tiveram seu futuro interrompido. Ontem, seis adolescentes tiveram suas vidas ceifadas e não vão se formar no ensino médio, não vão fazer faculdade, não vão se casar, não vão ter filhos, ou, mesmo, não vão ao clube no fim de semana, ou na casa da avó.

O dia 13 de março ficará marcado para sempre na vida das famílias atingidas por esta tragédia. Além dos jovens que tiveram seus sonhos terminados, duas funcionárias da escola estão entre as vítimas. E, hoje, as suas famílias não terão mais seus sorrisos, o ombro amigo com quem contar, ou, ainda, o número para telefonar, e elas do outro lado da linha para dizerem “alô”. Dez vidas e uma única sentença: a morte. Seguindo a linha do editorial de ontem: quanto vale uma vida? Vale dois adolescentes se colocarem no papel de juízes e determinarem quais pessoas têm que morrer? Vale um surto psicótico? Quanto está valendo uma vida hoje? Vale uma pessoa determinar que a vida do outro simplesmente o que determina o outro?

Hoje, dez famílias estão condenadas a viver com a dor, o desespero, a angústia, o vazio e o “e se?”. E se ele não tivesse ido a aula? E se ela não tivesse ido trabalhar? Mas era apenas mais um dia de aula. Era apenas mais um dia comum. Eram apenas adolescentes em um lugar tido como seguro. Os pais levantaram e enviaram seus filhos para a escola, como sempre, e os esperavam para o almoço, como sempre. Ou, então, faziam aquela ligação após a aula, como sempre, para averiguar se tudo estava bem. Mas, infelizmente, não está. O almoço não aconteceu, muito menos a ligação. O almoço nunca mais será feito, nem a ligação.

Mais triste do que ver dez vidas ceifadas, é ver que dois adolescentes tomaram tal decisão. É ver que dois adolescentes tramavam tudo ali, bem próximo a alguém que não conseguiu detectar qualquer anormalidade, não conseguiu impedir esta tragédia. O ser humano vive tão cheio de si que está incapaz de olhar o próximo, de ter o senso de coletividade e se contenta com a razoabilidade. Nossos corações sangram pelas vítimas, pelas famílias, e também pelos adolescentes que abriram fogo na escola. Estamos em luto. E, hoje, cada mãe, cada pai sente um pouco a perda destes pais.

Tomar o lugar de juiz neste momento talvez não seja a melhor opção. Empatia. O mundo precisa de empatia. Enquanto permanecermos em nossos mundos, nos esquecendo que vivemos em coletividade, e que o outro tem sentimentos, trilharemos caminhos obscuros como este. Este crime mais uma vez deixa mais perguntas a serem respondidas e uma delas é: quem somos?

 

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