Quem planta divisão não colhe união

Laiz Soares

Estamos no meio da tempestade. Vivemos a era da teatralização da política, da banalização do mal, da normalização da violência e do desprezo pela vida e inclusive pela morte. Pobreza de espírito, pobreza de caráter e de alma. Estamos num momento de absurda falta de tudo. Nunca foi tão difícil ser gente e ter um coração. O que mais precisamos é de lideranças colaborativas, empáticas, que tenham sabedoria e capacidade de deixar sua enorme vontade de ter likes nas redes para focar no que vai de fato trazer resultados para a população.

Tomando do próprio veneno, nos últimos dias vejo um governo apavorado, com uma Câmara de Vereadores e milhares de eleitores que não lhes dão um minuto de sossego. Pressionam por tudo e querem que os problemas se resolvam a passe de mágica. Por que será? Será que é porque prometeram que iriam milagrosamente “fazer funcionar tudo que não funciona” dando a entender que isso seria fácil, bastava querer, ser honesto e trabalhador? Existe uma questão retórica muito forte: quem não se compromete com nada se compromete com tudo. É por isso que estão patinando. Não tinham plano de governo, não tinham foco, não tinham prioridades, não queriam dar números, prometer nada, acabaram prometendo tudo, ficou pra cada eleitor definir o que era sua promessa. 

Por isso que o discurso raso e vazio é perigoso. Encanta fácil, mas gera rápido muitas frustrações. Agora a conta está chegando, e é só o começo. Acharam que passariam ilesos? Inauguraram uma nova era de políticos chutadores de placa e balde que só sabem atuar na internet, fazendo vídeos lacradores querendo ganhar fama e poder com isso. Quem fez essa escola e lançou a moda agora é alvo do que ensinou. A escola do “compartilha aí” pegou, e a criatura está se voltando contra o criador. No desespero da crise, cansados da pressão, quem sempre pregou divisão agora pede união. 

Descobriram que é muito fácil ser pedra, o difícil é ser vidraça. Descobriram, com a caneta na mão, que o “nós ou eles” é destrutivo, tóxico, exaustivo, doentio. Me surpreendeu que do nada aconteceu uma tremenda virada de chave no discurso e começaram a pedir união, paciência e moderação. A união que pedem seria uma rendição, uma mudança profunda nos valores e na forma de ver e fazer política, ou um ato de desespero oportunista? Quem construiu seu castelo de areia baseado no ódio não vai conseguir viver em paz. Quem sempre plantou divisão não consegue, não tão rápido, da noite pro dia colher união. 

Quem construiu a sua casa em cima da areia teme que a chuva venha e derrube as estruturas, porque a base não é consistente. Quem constrói sobre a rocha firme não fica abalado. A rocha firme é a honestidade nas palavras e no propósito, a verdade, a coragem, o conhecimento e a experiência que são adquiridos com muitos anos de trabalho duro, e não caem do céu sem muito esforço, evolução e aprendizado. A base de areia do castelo de cartas que pode ruir a qualquer momento é o populismo, a enganação, a confusão, o discurso de ódio, as notícias falsas, a baixaria e a lacração. Quanto mais alto o grito, mais baixo o argumento. Uma política feita sem argumentos gera um clima de guerra, em que a briga é por quem grita mais alto.

A esperança, o conhecimento, os argumentos podem até não convencer fácil a população, mas trazem consigo a certeza da consistência de um projeto sólido, coerente, embasado em rocha firme e em paz. Discursos fáceis não resolvem problemas complexos, o raso não consegue lidar com o profundo. Não basta pedir colaboração quando convém ‒ precisa ser, na essência, alguém que realmente quer pacificar a política por meio de boas ideias, de cooperação, de diálogo verdadeiro. Gestos valem mais que palavras. Menos vídeo e mais ação, é isso que vai trazer a união.




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