Professora de escola pública de Divinópolis inova e leva alunos a serem premiados

 

Marília Mesquita  

A escola deve ser mais do que um lugar onde os alunos passam de disciplina em disciplina, de professor para professor, até o dia em que o diploma esteja na mão. Pensando assim, há 20 anos ministrando aulas de português na Escola Municipal Otávio Olímpio de Oliveira, Elizete Faria, 45 anos, entendeu que a melhor metodologia é diferente daquela que, apenas, reproduz a gramática. 

É por isso que nos últimos cinco anos, oito alunos foram premiados pelas produções deles, em concursos nacionais e estaduais. É por isso  também que em agosto, a coordenadora da Olimpíada da Língua Portuguesa, Sônia Madi, esteve na cidade por dois dias para conhecer o processo de aprendizagem dos alunos de Elizete. É por isso ainda que apesar de 500 professores semifinalistas das Olimpíadas de Língua Portuguesas serem convidados a desenvolver um trabalho que aprimora o conhecimento ao inovar com estratégias de ensino, na última terça-feira, a professora divinopolitana foi à São Paulo apresentar o método dela. Agora possui reconhecimento nacional por estar entre os 10 projetos selecionados para o Programa Escrevendo o Futuro da Fundação Itaú Social, em parceria com o Ministério da Educação. 

E mais uma vez, e por isso, que no próximo domingo, 15, Dia dos Professores, Elizete Faria tem muitos motivos para comemorar.    

Projeto de escrita 

No 8º ano do Ensino Fundamental, o conteúdo programático de todo o primeiro período letivo foi desenvolvido através de sequências didáticas voltadas para um gênero textual: carta aberta. Todo o conjunto foi desenvolvido dentro do Projeto “Escrevo-te estas bem traçadas linhas - unindo vozes contra o preconceito”. 

  O projeto surgiu de um ecoar de vozes que existia na sala de aula, no qual os alunos queriam falar sobre o dia a dia deles.  

— Assim, propus organizar os assuntos em um jogo de trilha no qual o problema deveria ser exposto, mas à solução também deveria ser apresentada. Ao final, o tema em que os 25 alunos mais identificaram foi “respeito e preconceito” como uma forma de buscar medidas para diminuir a prática desses comportamentos — explica. 

Segundo Elizete, o conhecimento deve ser construído para que a aprendizagem seja internalizada. Assim, a escolha do gênero textual foi motivada pela necessidade dos alunos: 

— Eles não queriam só explicar sobre o que era respeito e preconceito. A intenção era acabar com a prática através da mudança de pensamento — conta.  

Foi a parceria entre as expectativas profissionais da professora e o protagonismo dos estudantes que rendeu bons resultados em todo o processo. Através da necessidade dos alunos em falar, eles produziram textos. Por meio do compromisso da professora em ensinar, ela avaliou aspectos textuais e linguísticos utilizando a reflexão e a construção de pensamento crítico ao possibilitar a capacidade de argumentação.      

— O projeto precisava ser da turma e eles precisavam se reconhecer no que estavam produzindo. A partir daí, eles viram o processo de reescrita do texto com a colaboração de um colega, a estrutura da tese, argumentação, paragrafação, pontuação. Então tudo o que precisava trabalhar para o desenvolvimento da disciplina trabalhou-se em uma sequência de oficinas voltadas apenas para um gênero de texto — completou.   

Construir junto 

Em uma sala de aula o professor instrui. Mas, ao perceber o erro ou a possibilidade de mudança, Elizete incentiva os estudantes a identificar formas de melhorar o texto do outro.  

— Os textos são trocados na sala de aula e, utilizando um bilhete, os próprios alunos corrigem erros de palavras e pontuação, assim como sugerem mudanças de expressões e formas de construção de pensamento — conta. 

Segundo ela, o grau de maturidade da turma faz com que as discussões levem a avaliação conjunta e todos selecionam os melhores textos.  

— Mais do que constrangimento, as avaliações são construtivas e colaborativas — sintetiza.    

Reconhecimento 

Em um processo de resgatar histórias, com o gênero memória literária, dois alunos já ganharam medalhas de ouro e bronze, nas Olimpíadas de Língua Portuguesa, com as produções textuais deles. 

O atual campeão do Concurso Nacional de Redação também é um aluno da Elizete e estudante de uma escola pública divinopolitana. Outros três primeiros lugares saíram da mesma sala de aula. Em 2014, outro primeiro lugar foi para Divinópolis, do concurso de redação da Controladoria-Geral da União (CGU). Além disso, no Concurso de Poemas sobre Cerrado - Sala Verde Frei Paulino, um aluno ficou em segundo lugar   

— Eu incentivo meus alunos a participarem dos concursos porque eles são bons produtores de texto. Esta prática não é competitiva simplesmente, é importante mostrar onde o ensino pode levar uma pessoa. Também é bom porque aumenta a autoestima e colabora para o desenvolvimento de textos. O que ganha é todo o processo na sala de aula — completa. 

 

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