Produzindo (ainda) na maturidade

 

Oscar Niemeyer trabalhou até dias antes de sua morte, em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos de idade. Um de seus últimos projetos, a Catedral Cristo Rei, em Belo Horizonte, ora em construção, localiza-se a quatro quilômetros do complexo administrativo do Estado, também projetado por Niemeyer.

Miguel de Cervantes tinha ultrapassado os 60 anos quando escreveu a segunda parte de Dom Quixote de la Mancha. Em 12 de outubro de 1936, Miguel de Unamuno era reitor da Universidade de Salamanca, Espanha. Acabara de ouvir o discurso do general José Millán-Astray, fundador da Legião Espanhola. Retrucou e, lá pelas tantas, enfático, Unamuno disse, do alto de seus 72 anos: O gen. Millán-Astray é um inválido de guerra. Cervantes também o era. Causa-me dó pensar que ele esteja ditando normas de psicologia de massas. Um mutilado, destituído da grandeza espiritual de um Cervantes, tendente a procurar alívio causando mutilações em torno de si.

 

Beth Carvalho recriou espaço para mestre Cartola. Mangueirense, Beth tirou do anonimato o fundador da escola, Agenor de Oliveira, o Cartola. “Nunca mais ele chorou.” Nem idade nem deficiência física impedem a composição de uma Nona Sinfonia por um Beethoven já surdo. John Milton produziu seu Paradise Lost (Paraíso Perdido) estando já cego.

Animal racional, o ser humano é constituído de corpo e razão. Dá-se muita importância, hoje em dia, à atividade física, em qualquer idade. Não creio que venha sendo dada a mesma relevância à atividade mental, intelectual. No entanto, homem e mulher precisam exercitar permanentemente a sua inteligência.

Com orgulho, ostento o privilégio de estar além dos 80 e, “gracias a la vida”, único sobrevivo de treze irmãos... Escreve-me um leitor: “No seu (meu) caso específico, pela experiência e pela lucidez na sua plenitude, parece-me um privilégio. Se houver proporcionalidade espiritual, então é um privilégio e uma dádiva!”.

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