Pressão social pode ser uma das causas da depressão

Maria Tereza Oliveira

Dando continuidade à série de reportagens iniciada nesta semana sobre o “Setembro Amarelo” e a valorização da vida, o assunto desta edição trata das pressões psicológicas. O Agora entrevistou um profissional da área para falar sobre os temas.

No entanto, apesar dos dados alarmantes, a depressão – principal causa do autoextermínio – são subestimados pela sociedade.

Padrões inalcançáveis

De acordo com a psicóloga clínica e pós-graduanda em terapia cognitivo comportamental Jéssica Jheniffer Ferreira, de 27 anos, a imposição de um padrão de beleza, do “corpo perfeito”, vem sendo exposto nas notícias, passarelas e publicidades e tem levantado hipóteses sobre as possíveis reações que cada um deve ter e seguir como base comportamental.

— Diante deste debate, a psicologia vem com o olhar voltado para o indivíduo no seu singular, ou seja, analisando e entendendo o que cada um precisa para se sentir amado e respeitado. Em especial as mulheres, que, por se relacionarem de forma mais ampla com questões de moda e estilo, buscam o suposto corpo perfeito, ditado por revistas e mídias sociais, em que o peso e a estética são prioridades — pontuou.

A psicóloga salientou que este padrão corporal é visto desde a infância, inclusive com os artistas mirins.

— Alguns fatos me chamaram a atenção na clínica. Crianças de pele negra não aceitavam sua cor pelo simples fato de não se encaixarem no que a principal personagem da novela era. Outro fator que envolve é o ensinamento de que as crianças atuais não são ou vestem como crianças comuns. Isso faz com que os adultos achem que quanto mais parecidas com os pais, mais lindas as crianças estão. Assim, involuntariamente, ela entende que ser padrão é o correto, e ser singular nos gostos e desejos já não é tão aceito — alertou.

Ainda segundo Jéssica, nos adultos a padronização corporal é marcada na relação do corpo saudável, admirado e idealizado pelas pessoas, em maioria por mulheres.

— Quando a sociedade vê uma mulher ditada “gorda”, logo acha que ela está doente. Assim, muitas mulheres acabam se envergonhando do corpo e da personalidade criada, para lidar com a opinião dos outros. Lidar com este corpo, que não encaixa no “ideal”, pode desencadear insegurança, baixa autoestima, depressão, automutilação, crises de ansiedade entre outras. Nestes casos, a pessoa precisa de, além do acompanhamento psicológico, uma rede de apoio para manter sua estabilidade durante todo o processo. Quando isso não ocorre, a mudança do pensamento pode ser difícil e, por vezes, a pessoa chega a desistir no meio do caminho, se frustrando ainda mais — explicou.

A profissional citou as rodas de conversa como uma ajuda durante o processo.

— Neste mês, com a prevenção ao suicídio, pode-se aproveitar o espaço destes debates e eventos para tocar neste assunto, que ocasiona tantos relatos semelhantes ao suicídio — sugeriu.

Feminismo e body positive

A psicóloga também cita que o movimento feminista contribui na luta contra as os padrões impostos pela sociedade.

— Com o intuito de mudar esta visão, o feminismo vem com uma luta voltada para a aceitação corporal: o “body positive”, que, apesar de ter sido criado em 1996, nos Estados Unidos, ainda era pouco explorado como está sendo nesses dias. Este movimento defende que todo corpo merece respeito, independentemente do tamanho ou especificidade — explicou.

A psicóloga acredita que, com o engajamento das influenciadoras digitais, o encorajamento feminino ocupou maior campo de visão da sociedade.

— No entanto, não é possível dizer, sem se basear nos relatos clínicos que recebemos, que este movimento veio para solucionar as questões de aprisionamento corporal para quem não se encaixava no “corpo perfeito” por vários motivos. Este movimento tende a auxiliar em alguns casos, mas, ao mesmo tempo, impõe um novo padrão estético. Por exemplo, para as modelos plus size não é suficiente ser apenas acima do peso para exercer este papel. Para estas modelos, também é imposto um perfil extremamente desafiador e encorajado. Como se, para elas, o medo da rejeição não existissem, e que o simples fato de se aceitar diante das pessoas as curaria das marcas já feitas durante todo o tempo em que foram isoladas e criticadas — alertou.

Outro ponto de vista citado pela psicóloga é a necessidade de levantar a questão das doenças causadas pelo acúmulo de gordura no corpo.

— Isso pode acarretar na saúde da mulher. Precisamos mediar este movimento com uma série de questões que envolvem suas escolhas e metas de vida. Não se deve padronizar algo que depende tanto da subjetividade de cada indivíduo — explicou.

Jéssica lembrou que a psicologia trabalha com a singularidade e a capacidade de mostrar do que cada uma traz fora do corpo.

— Lembrá-las que, mais do que um corpo perfeito, é preciso ter uma mente saudável e adaptada para realizar suas expectativas. Cada um é único e ser diferente no Brasil é comum. Isso nos torna de certa forma especial, cada biotipo tem suas características e a miscigenação brasileira é formada justamente por suas diferenças — enalteceu.

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