Por mais maturidade na política

Laiz Soares

No nosso país há um senso comum que diz que “religião, política e futebol não se discutem”. Essa é a maior prova da imaturidade e despreparo da nossa sociedade para conviver com a democracia, onde a pluralidade de ideias e visões de mundo diversas precisam coexistir pacificamente, e política tem que se discutir, sim. De uma vez por todas, precisamos aprender logo, sob pena de pôr em risco o progresso desse país e de todos nós: discordar não é odiar. Criticar não é desejar o mal nem torcer contra. Precisamos acabar com esse clima de Fla-Flu na política brasileira. 

Política não é religião nem futebol. Políticos não deveriam ser ídolos, não deveriam ter fã-clube e ninguém torce por político nem por governo nenhum. As pessoas aprovam ou desaprovam determinadas ações e medidas, e o ideal é saber separar essa avaliação sempre caso a caso, e não julgar o livro pela capa nem botar tudo num mesmo balaio, qualificar a crítica ou o apoio. Políticos precisam entender, principalmente os mais populistas, que há uma grande diferença entre ser questionado, criticado, e ser perseguido. É papel dos cidadãos e dos demais políticos acompanhar, cobrar e questionar quem está no poder. É obrigação de quem está no poder se dispor a responder. 

Em um país civilizado, democrático e desenvolvido, que é o que queremos ser, mas ainda não o somos totalmente, as pessoas precisam aprender a conviver com o diferente e o contraditório, e principalmente aprender a ser contrariadas, o que não é fácil e exige uma certa dose de maturidade e humildade. Precisamos aprender a conviver com o diferente, com o que desagrada. Um governante que quer ser 100% amado, aceito e idolatrado não é um líder republicando, é um déspota, um ditador. Está tudo bem todo mundo não pensar igual. Nós, seres humanos em geral, estamos todos no mesmo barco e temos tentações parecidas, como a prepotência de achar que somos donos da verdade, o que às vezes faz nos afastarmos de quem pensa um pouco diferente de nós. Precisamos ser vigilantes para não cairmos nessa armadilha, principalmente aqueles que estão no poder exercendo algum cargo, pois para eles isso pode ser fatal.  

Eu gostaria muito de ver a política do nosso país, do nosso estado e da nossa cidade caminhar para um futuro de mais moderação, ponderação, racionalidade, onde seja possível se construir críticas construtivas e conversas com base em evidências e dados científicos. É cansativo viver em guerra, é improdutivo, gera perdas para todos, impede a prosperidade e o desenvolvimento.   Eu percebo a nova gestão na nossa cidade ainda em clima de campanha, de disputa, muito na defensiva, acuada, querendo o tempo todo se provar merecedora do cargo, muito preocupada em mostrar serviço nas redes sociais e pouco responsiva aos clamores de quem pensa a cidade. 

A impressão que eu tenho é que estão sempre tensos e com medo, com semblantes pesados, quase que como quem sabe lá no fundo que não está preparado para o desafio, que reconhece que deu um passo maior do que a perna e morre de medo de alguém descobrir que não vão dar conta, a famosa “síndrome do impostor”.  Eu acredito que podem dar conta, sim, acreditem em vocês também e baixem a guarda, a campanha já acabou, vocês já foram eleitos! Agora, é hora de governar para todos, inclusive para quem vocês não gostam, sinto ter que dar essa notícia chata. 

As críticas e questionamentos não são ataques pessoais para deslegitimá-los! Se tiverem a humildade e o desejo real de ouvir a todos e incorporar, sempre que possível, diferentes ideias e pontos de vista, a chance de o novo governo dar certo é alta. O problema, e este é o meu medo, é se acharem donos da verdade ou só confiarem nas ideias de quem é do grupo político de apoiadores próximos, se fechando em torno de uma “seita” onde só é bem vindo quem reza a sua cartilha.

Venceram as eleições, se apropriem disso e sigam em frente cumprindo a missão que lhes foi posta com diplomacia e sabedoria, tendo jogo de cintura, sem precisar ficar o tempo todo animando a torcida, entendendo que a maior parte da cidade não votou em vocês, e que se somarmos os votos em todos os demais candidatos temos uma maioria esmagadora de cidadãos que estão na oposição e que precisam ser respeitados e contemplados, mesmo não estando na base de apoio do governo. 

 A crítica é natural da política, acostumem-se e aprendam a viver em paz com isso, ninguém nunca é uma unanimidade em uma democracia. Vocês possuem mérito por estarem aí e nossa cidade precisa de vocês. Não é vivendo sob as câmeras mostrando que estão trabalhando que vocês vão conseguir colocar Divinópolis nos trilhos, é ouvindo quem está fora da bolha, lidando com o contraditório, refletindo sobre as críticas, reconhecendo erros e aprendendo com eles e focando tempo no que mais interessa, gestão e articulação política, que nossa cidade entrará, sim, em um novo rumo. 

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