Perdidos em Londres

Augusto Fidelis

Só sei que foi assim: eu e o meu grupo nos acomodamos no hotel e logo em seguida saímos para conhecer a cidade, no ônibus da excursão. O primeiro ponto foi num museu chamado Masp. Quando vi o nome, comentei com um dos colegas: engraçado, já vi esse nome em outro lugar, deve ser uma rede igual a supermercado.

Descemos todos e adentramos no local. Entra aqui, sai ali, vai acolá. As estátuas nos olhavam com ferocidade, os livros abriam e fechavam-se sem permitir que a gente lesse qualquer coisa. Tudo muito esquisito. Terminada a visita, eu caminhava por um corredor quando vi num canto, em oferta, uma pilha de frascos de perfume, embrulhados com papel de pão. Num deles, escrito a caneta e em português, a seguinte frase: “Leve um perfume e ganhe um médico”. Peguei-o, examinei e perguntei para mim mesmo: será que o médico está dentro do vidro ou a gente o recebe na saída? Vou levar!

Ao chegar ao caixa, problema: fui informado que na Inglaterra não aceita Euro, então tinha de fazer a conversão para Libra Esterlina, mas tudo online. Porém, esse procedimento demorou um pouco. Quando cheguei à saída do museu, decepção: meu grupo havia ido embora e me deixado sozinho num lugar onde ninguém me entendia e se afastava de mim, como se eu fosse um marginal. O meu celular mudou toda a configuração, não era possível ligar. Com o sol caminhando para o poente, pensei: não tenho o nome do hotel nem o endereço, não sei como voltar, vou ter de dormir na rua.

Estava eu ali perplexo, em lágrimas, sem destino, quando tive uma surpresa: apareceu mais um perdido: Cleonário; de repente mais outro: Antônio Carlos da Silva, o Toninho da Escola Turismo; depois chegou Marcos Alves, outro perdido.  Então, eu disse para o Toninho:

— oi, você sabe falar inglês, liga para o hotel e diga que estamos perdidos!

Ele respondeu:

— De jeito nenhum, o único que ficou no hotel foi o Sávio Rodrigues, que está repousando a essa hora, para o show de logo mais. Se eu o acordar agora, ele vai ficar uma arara!

Depois, de súbito, acrescentou:

— Veja lá, estão vindo de metrô nos buscar!

Para meu espanto, o metrô era uma carroça velha, com barras de ferro dependuradas de um lado e de outro, puxada por um burrinho estafado que, ao chegar perto de nós, caiu mortinho, provocando um barulho enorme. No susto, descobri que o barulho, na verdade, era o relógio despertando às cinco e meia. Acordei um pouco aliviado, um pouco frustrado, um pouco meio cara de taxo, e conclui: realmente, comer feijoada à noite, na hora de dormir, tem de ser mesmo com muita moderação.

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