Paz na Terra

Paz na Terra aos homens de boa vontade. Falecido no início do século 19, Emanuel Kant, em sua “Metafísica dos Costumes”, salienta a importância ética da boa vontade (der gute Wille). "Não é possível pensar algo que, em qualquer lugar no mundo e mesmo fora dele, possa ser tido irrestritamente como bom senão a boa vontade". Boa vontade para resolver o problema da paz perpétua. Não apenas períodos de trégua, de caráter provisório, temporário. Eventuais momentos de paz numa guerra, como a dos cem anos, entre os reinos da França e da Inglaterra, na verdade, duração de 116 anos, na Idade Média.  

Pra variar, continuamos em guerra. Guerra armada, guerra fria, confrontos e conflitos, violência por todo lado, desentendimentos em família, na escola, pescoções nos parlamentos, ódio e vingança, direito torto, guerras religiosas, guerras políticas, guerras de disputa econômica, retaliações, homicídios, genocídios, destruição de monumentos históricos, artísticos, ações de vandalismo, pichações, enfim, em perpétua luta fratricida. Tomás Hobbes, que considerava a guerra inimiga do progresso, fala na instituição de um pacto livre, que identificamos aqui como boa vontade. Para ele, os homens são, por natureza, profundamente egoístas: “bellumomnium in omnes, homo homini lupus”. Guerra de todos contra todos, o homem é um lobo para seu semelhante.  

Uma gravura sequencial ilustra o papel da boa vontade, dos pactos, da cooperação. Dois burros atados por uma corda curta disputam duas touceiras de capim, puxando um ao outro em direções opostas. Depois de tanto puxar cada qual para o seu lado, resolvem dialogar. Por fim, chegaram a um acordo: vamos juntos comer o primeiro monte de feno; em seguida, também juntos, vamos até o outro monte de feno. E os burros, que não são tão burros assim, deram aos humanos uma lição prática de pacto livre, de boa vontade. 

Começamos com Kant, passamos por Tomás Hobbes, terminamos com a lição de dois... 

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