Para matar a saudade dos ‘peladeiros’

Batendo Bola

José Carlos de Oliveira 

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Num tempo não muito distante, em todo bairro de Divinópolis sempre tinha um campinho de futebol, construído pelos próprios atletas, então crianças e adolescentes, em lotes vagos ou mesmo na beira do rio Itapecerica. E mesmo nas ruas dos bairros, onde ainda não tinha calçamento, sempre tinha espaço para um joguinho de bola. Para capinar o mato, cada um levava a sua “enxada” e estava pronta a equipe de trabalho.

Para os gols, sempre armados com galhos e mesmo com troncos de árvores, a garotada encontrava farta matéria-prima, nas matas que circundavam toda Divinópolis. Isto quando não eram apenas duas pedras, ou mesmo camisas e chinelos de alguns.

 Uma alegria só 

Havia dias em que a bola começava a rolar ainda pela manhã e só parava quando o sol se punha. Não tinha essa de estar cansado, não. Se pudessem, varavam a noite chutando uma bola. Era uma alegria só, um sentimento que foi “roubado” das crianças de hoje, que não têm mais liberdade nem para sair de casa.

 

Roubaram a infância 

O mundo dito “moderno” roubou a infância de nossas crianças e hoje o que se vê é pais com medo de deixar seus filhos saírem porta afora, nem mesmo brincar perto de casa, com os vizinhos de rua e quarteirão. Nada mais é permitido aos pequeninos. Estão roubando a liberdade e a infância de nossas crianças e transformando-as em robôs, viciados em celulares e computadores. Tudo em prol de uma “falsa segurança”.

 Bons tempos

 E esta semana, vendo uma publicação no Facebook, vi como éramos felizes e nem sabíamos. A liberdade de ontem bem que poderia ser o exemplo e o espelho para nossas autoridades de hoje, fazendo-as enxergarem mais o lado dos “pequeninos”, dando-lhes apenas aquilo que eles querem e merecem: liberdade para brincar.

 Regras do futebol de campinho 

Para que os “adultos” de hoje se lembrem como era no passado, e quem sabe, dar algo melhor às “crianças do futuro”, aí vai um pouco do que foi um jogo de futebol num ontem não muito distante:

 (1) Os dois melhores não podem estar no mesmo lado. Logo, eles tiram o par ou ímpar e escolhem os times.

(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.

(3) Um time joga sem camisa.

(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de “catar” no gol.

(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um “cata” até sofrer um gol.

(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só pra tentar pegar a cobrança.

(7) Os piores de cada lado ficam na zaga.

(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador.

(9) Não tem juiz.

(10) As faltas são marcadas no grito: se você foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirá a falta.

(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite “nossa” e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica a “escanteio”).

(12) Lesões como destroncar o dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.

(13) Quem chuta a bola pra longe tem que buscar.

(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, no tapa.

(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda que ele vá pra casa.

(16) Mesmo que esteja 15 a 0, a partida acaba com “quem faz agora, ganha”.

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