O verdadeiro, o belo e o bom

O belo é associável ao bom. “C’est un beau geste.” Belo gesto, bom gesto. Mas também quando se recrimina uma criança que cometeu alguma “arte” se diz que ela fez coisa feia. A palavra artista assume conotação pejorativa quando no sentido de pessoa com pendor para a farsa. Vira a folha, quando não o livro inteiro, com o mesmo sorriso, altaneiro, verborrágico: – É comigo?  ”Artistas” faceiros garantem-se no poder. Dão uma de vítima nos próprios descaminhos. Culpado, eu?

Grandes artistas! Artistas de nascença e de longo tirocínio. O poder e a fama inoculam o veneno da vaidade. Não existe antídoto ou vacina para isso, a não ser um produto não encontradiço nas farmácias: discernimento. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Dinheiro público é dinheiro público. Use com moderação. Já se disse até, em tom de corporativismo, que a ética, como a arte, possui conceito elástico. Tanto que vale a pena um cidadão, ou cidadã, eleger-se nem que seja para não fazer nada em benefício do povo e gozar de imunidade.

Ninguém está imune da corrupção. “Quem não tiver pecado atire a primeira pedra.” Enfim, artista profissional deve sê-lo com “A”, maiúsculo, para merecer esse título. Tal artista proporciona entretenimento em meio à dura realidade. Sirva de referência, para análise, o filme Coringa (2019) – Joker.

E o verdadeiro, onde situá-lo? O filme “The good, the bad and the ugly” não inclui “The true”. Em matéria de arte, um bom tema não faz necessariamente uma boa pintura, mas uma boa representação artística pode tornar atraente qualquer assunto. Um Guernica, uma Pietà, uma natureza-morta, um Va pensiero. Detalhe: a catedral de Brasília e a Igrejinha da Pampulha foram fruto de releitura de artistas rotulados de comunistas.

Ouvi o que foi dito pelos antigos escolásticos: a verdade está na distinção. Eu, porém, prefiro dizer: o verdadeiro está no discernimento. Se é igual não pode ser diferente. Ou pode? Depende.

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