O que é a música?

 Ontem, à noite, resolvi revirar a minha estante à procura de alguma coisa que, com certeza, eu não havia guardado. Minha mãe sempre dizia: “Quem procura o que não guardou, acha o que não deve”. No entanto, dou testemunho de que isso é relativo. Houve um período em minha vida que eu adorava procurar chifre na cabeça de cavalo, e achei inúmeras vezes. Mas posso garantir que foram descobertas fantásticas.

Não sei o porquê, mas tirei da prateleira vários livros e, quando me dava ao trabalho de recolocá-los, deparei-me com uma publicação sob o título: “O que é a música?”. Isso me deixou intrigado, pois, até então, eu não tinha nenhuma dúvida, até me considerava versado no assunto. Tencionava colocar o livro no mesmo lugar, quando uma pulga começou a bulir atrás da minha orelha e obrigou-me à outra atitude.

Pensei comigo: quem me faz esta pergunta? Na primeira folheada, descobri: o autor é Manuel Valls Goringa, espanhol de Barcelona, formado em direito e fez seus primeiros estudos de música no Conservatório do Liceu, na cidade natal; depois aperfeiçoou-se com o padre Donostia (contraponto, fuga, orquestração e composição). Peguei o livro e fui lê-lo na cozinha, mas, antes de iniciar a tarefa, tomei um gole de café bem temperado de pó e açúcar, acompanhado apenas de bolachas de água e sal, por causa do eterno regime em prol da minha beleza.

Comecei a leitura na esperança de encontrar a resposta imediatamente, mas Valls Goringa é muito prolixo e foi tratar primeiro da matéria base da música que é o som, fundamento de toda a estrutura musical. Mas quis me obrigar a ir à Grécia Antiga, conversar com Pitágoras e Terpandro, e depois passar pela Itália Renascentista, para ouvir a opinião de Zarlino e Galileu. Eu não entendo: tudo que se vai fazer, os gregos estão no meio. E não são apenas Sócrates, Platão, Aristóteles e companhia; os gregos são uma legião e estão metidos em todas as áreas do conhecimento humano. Assim não dá!

Entediado com Valls Goringa, lembrei-me de Wagner de Mello Ribeiro, em Elementos de Teoria da Música, e quis saber a sua opinião sobre esta pergunta que insistia em se manter no ar: o que é a música? Com simplicidade, Ribeiro disse o que eu já sabia: “Música é a arte de combinar os sons de modo a produzirem sensações agradáveis ao ouvido e despertarem na alma emoções especiais”. Porém, para dar tempero ao som e inebriar a alma é preciso que se acrescente a essa combinação o ritmo, a melodia e a harmonia. Pensando bem, modéstia à parte, com o fim do meu programa de rádio os músicos locais perderam espaço. Agora, só se ouve música sertaneja ou internacional. Uma lástima!

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