O peso de ser mulher

Laiz Soares 

Eu poderia ficar aqui fazendo discursos lindos, falando das mulheres que me inspiram, em como é maravilhoso ser mulher e ficar repetindo clichês que acostumamos ouvir nesta semana da mulher. Mas eu prefiro fazer o que poucos fazem: botar o dedo na ferida e usar meu espaço aqui para falar verdades inconvenientes e necessárias para melhorar a vida de nós, mulheres. Não é à toa que a coluna se chama Megafone.

Prefiro falar do machismo estrutural, da sobrecarga absurda de jornada tripla de trabalho que a maioria das mulheres enfrenta porque existe uma visão cultural de que todo trabalho de casa tem que ser da mulher e poucos homens dividem as tarefas domésticas. Prefiro falar do mito da “mulher maravilha” que tem que dar conta de tudo lindamente e se desdobrar sem poder reclamar, do peso completamente desigual da maternidade sobre os ombros da mulher, da ditadura da beleza e perfeição que oprime as mulheres. Prefiro falar da violência contra as mulheres, do feminicídio que o Brasil bate recordes diários. E, antes que algum desavisado injustamente fale que é mimimi, vamos aos fatos. 

Nenhuma empresa, ao contratar ou promover um homem para um cargo maior, lhe pergunta: você pretende ser pai em breve? O custo social de ter filhos infelizmente ainda é algo que pesa infinitamente mais nas mulheres e nas suas vidas e carreiras do que para os homens. Isso é muito preocupante quando a mulher o faz porque desiste de tentar conciliar as duas coisas. Quero muito ser mãe e não estou disposta a abrir mão do trabalho, já sei que terei que enfrentar uma conta cara e pesada e isso me preocupa, como a muitas mulheres de diferentes classes sociais. Essa conta sai bem mais cara para quem precisa de uma creche pública, por exemplo, e sabemos que na nossa cidade essas vagas são escassas. 

Um estudo da FGV de 2016 mostra que 48% das mulheres saem do mercado de trabalho em até dois anos após a chegada dos filhos. Eu sou filha de uma mulher que optou por ficar em casa cuidando dos filhos, mesmo tendo um diploma de faculdade. Foi uma escolha consciente, não uma falta de opção, escolha válida, respeitável e admirável. O problema é quando as mulheres querem e/ou precisam trabalhar mas acabam saindo ou desistindo do trabalho por exaustão, por falta de apoio da empresa e da família, por falta de opção. Há projetos a serem tramitados no Congresso ‒ como a licença parental, que cria uma licença compartilhada e igualmente dividida em meses para os pais ‒ que pretendem reduzir um pouco esse desafio. Esse é um exemplo das possíveis soluções que o país precisa e tem que tomar. 

No meu caso, também é bem cansativo ser uma mulher jovem solteira na política no Brasil, especialmente na nossa cidade, ambiente conservador e mais machista do que a média das grandes capitais. Eu cheguei a ouvir na campanha que eu era menos mulher porque eu não tinha filhos. É um desgaste ser jovem e solteira, porque os homens te respeitam menos e acham que tem espaço para dar em cima ou de repente todos se acham aptos a se candidatar para a “vaga” aberta, já que para muitos é inadmissível uma mulher que não tem um homem a tiracolo. Do alto do ego deles, a única explicação possível é: se está solteira, só pode não gostar de homem. Eu já me vi tendo que ficar justificando por que não tenho um namorado. Patético.

Eu já vi inclusive mulheres na política local inferirem que eram mulheres sérias e de respeito porque eram casadas e tinham filhos, como se quem não fosse casada e com filho não tivesse a mesma credibilidade e valor. Ora, o que é uma mulher de respeito para você? Para mim, são todas as mulheres do mundo. Não interessa se solteira, casada ou divorciada. Não interessa a profissão nem a classe social, absolutamente toda mulher é igualmente digna de respeito. Precisamos rever nossos conceitos e valores urgentes sobre o que é ser mulher no nosso tempo. Eu admiro muito homens que conversam com mulheres no ambiente de trabalho de igual para igual, focados no tema do assunto sem ficar olhando diferente, sem subestimar a inteligência e muito menos de um jeito meloso querendo seduzir ‒ o que é muito constrangedor e de embrulhar o estômago. Já tive que aguentar muita coisa, e sei que não sou a única mulher. É lamentável eu ter que usar esse espaço para falar disso, mas, infelizmente, essa é uma realidade das mulheres no mercado de trabalho, não só na política. Assédio moral, assédio sexual, ser subestimada, não ser ouvida, não ser respeitada... Cansa só de falar. 


 
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