O país do BBB

Laiz Soares

Houve um tempo em que eu criticava quem via e gostava de BBB. Perdi o preconceito, e aprendi com o tempo que o que fazemos para nosso entretenimento não tira nossa inteligência nem nosso senso crítico. Tenho assistido às vezes, sempre com o olhar de tentar entender o comportamento das pessoas em relação a quem está lá, acho tudo muito rico para compreender a nossa sociedade. Está bem claro para mim que as pessoas têm um interesse enorme em ver a intimidade dos outros e a vida como ela é. E, por alguma razão, que eu deixo para os especialistas, as pessoas se interessam pelas intrigas, pela discórdia, brigas, barracos e gritarias, e não é só nos seus momentos de entretenimento, isso extrapola também para a política.

Fui ver o programa tentando entender também por que figuras como a Karol Conká se tornaram tão odiadas. Como eu peguei o bonde andando e não acompanhei o início, ficou mais difícil para mim odiar a Karol. Eu percebi que eu fazia um esforço para ver algo de bom nela. Mesmo sabendo que ela cometeu erros sérios e desprezíveis, isso não a torna alguém que não tenha absolutamente nenhuma qualidade. Será que se a gente começasse a olhar todo mundo assim, a vida seria um pouco melhor? Eu penso que amar e odiar é uma escolha, uma decisão, minha mãe sempre me disse isso, aprendi com ela. E é superpossível você criticar alguém, não concordar com a pessoa em quase nada, repudiar o ato e desprezar o erro, mas não reduzir a pessoa àquele erro. É possível, mesmo assim, reconhecer que aquela pessoa é um ser humano que tem também qualidades, mesmo que você não esteja disposto a descobri-las.

Eu fui ver BBB querendo entender o que estava acontecendo, sem ter escolhido um lado, com o coração realmente aberto. Ter um bode expiatório no BBB e/ou na política gera um transe coletivo que proporciona um certo alívio temporário, mas custa caro para sociedade. Ter um programa para se distrair do sofrimento da vida, encontrar diversão e principalmente encontrar vilões que aliviem nem que seja um pouco a dor da existência e possam ser culpados mesmo que inconscientemente pelos nossos problemas não deixa de ser um remédio para um Brasil doente. Só que se alimentar de ódio é tomar o remédio errado, é na verdade tomar veneno, faz mal para o corpo e para a alma.  

A grande questão emblemática para mim do BBB é a movimentação nas redes sociais para linchar Karol ou outros participantes. É o julgamento e condenação moral que as pessoas fazem de todos que estão ali. Na política isso fica ainda mais claro. Já vi gente julgando caráter e condenando alguém por uma fala, uma decisão ou um voto. As pessoas te enquadram e te condenam de acordo com o que é confortável para elas. Elas querem acreditar que você é ruim porque de alguma forma isso faz bem para o ego delas, elas tem alguém para se sentir superior. O grande risco desse fenômeno é que ninguém de nós está imune a ser a próxima vítima. No fim do dia, se não lutarmos contra discursos de ódio, em algum momento seremos todos Karol Conká, seja porque nós aceitamos perseguir, maltratar e isolar aqueles que erraram conosco, como podemos ser os que serão isolados e linchados. 

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