O nome é hipocrisia

Enfim, o carnaval acabou. No feriado prolongado, que terminou na quarta passada para muitos – dia que começou a Quaresma –, balanço mostrou que cerca de 200 mil veículos passaram pelas rodovias da região. E adivinha? Treze pessoas foram presas por dirigir embriagadas, situação que se repete ano após ano. Nem mesmo as campanhas realizadas pela concessionária que administra a MG-050 e pela Polícia Militar Rodoviária (PMR) foram suficientes para que condutores tivessem responsabilidade na hora de pegar a estrada, o que pode ter contribuído para alguma destas batidas ou mortes registradas no período.  Constatação triste, pois, no meio destas oito mortes, famílias foram destruídas e nunca mais conseguirão ter uma vida normal. Um esquema estratégico para evitar acidentes foi montado, mas quando o ser humano quer ser irresponsável e colocar não só a sua vida, mas também outras vidas em risco, ele faz sem pensar duas vezes.

Há anos constatamos a mesma situação. Não só no carnaval, mas todos os dias sonhos são destruídos pela imprudência. Pelo simples fato de um ser humano sair de casa e não pensar no outro. Diariamente, neste país desgovernado, famílias choram a partida de seus entes queridos. O que era para ser uma viagem em família, de descanso, diversão, se transforma muitas vezes em tragédia. Os sorrisos se vão, os planos para um compromisso ou comemoração, passam a ser datas vazias ou, talvez, cheias de dor. E tudo por causa da imprudência, da irresponsabilidade. A pergunta é: o que leva uma pessoa a beber e depois pegar o volante, sabendo que pode se tornar um assassina? Assassina, sim, pois quem sai com esta intenção, conhece os riscos e assina sua decisão. Se quer se colocar em risco, coloque a sua, não a dos outros. O problema é que, lamentavelmente, uma coisa puxa a outra e perde é quem morre e seus parentes. Pois a impunidade impregnada nesta nação faz com que estes covardes vivam tranquilamente sem nenhum temor, e o pior, sem qualquer peso de consciência.  Fazer o que, se o exemplo vem de cima?

Entra ano, sai ano e a história é exatamente a mesma. Surpresa será o dia que tudo ocorrer bem nas estradas durante os feriados prolongados. Bem difícil, pois o brasileiro se tornou uma raça especializada em se autodestruir. Choveu e a instrução é: vá devagar. Bebeu, a instrução é: não dirija. Pegou estrada e a instrução é: respeite o limite de velocidade. Mas as regras desobedecidas sempre e com graves consequências. De que adianta alguns baterem no peito exigindo mudanças, que os políticos cumpram as regras, quando quem exige não cumpre? O nome disso? Hipocrisia. Como mudar, como evoluir, quando a base de uma sociedade, de um país, está na hipocrisia? Como exigir a mudança do outro, se não dou um passo para a minha própria mudança? E se todos os dias tudo é exatamente igual?

O povo quer mudança, mas não quer mudar.  Quer melhorias, mas resite em melhorar. Tem uma frase de Mahatma Gandhi que é bem clichê, mas é mais do que real: “Seja você a mudança que quer ver no mundo”. Enquanto a sociedade andar em círculos, enquanto todos os anos as mesmas notícias forem dadas, não haverá evolução. Enquanto não houver respeito e responsabilidade, tudo continuará exatamente igual. Continuaremos a buscar no outro o que é nosso. Continuaremos a cobrar do poder público atitudes que nós mesmos não temos. A Quaresma está aí, chegou o tempo de reflexão. De pensar sobre o que realmente o povo quer para si e para a coletividade. Afinal, uma mudança não é feita com as mesmas atitudes. É preciso mais. É preciso querer.

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