O melhor de ir

No começo, nas primeiras viagens a trabalho, eu sofria muito

Leila Rodrigues

No começo, nas primeiras viagens a trabalho, eu sofria muito. Frio na barriga, tensão, vontade de não ir, medo de acontecer alguma coisa. Um dia me dei conta de que, na minha profissão, viajar seria uma rotina, se é que podemos relacionar viagem com rotina, afinal, cada dia um lugar diferente. Então decidi incorporar a viagem na minha vida e usufruir o melhor dela.

A cada cidade uma cultura, novas pessoas, novos lugares. Um jeito diferente de fazer as coisas, um pãozinho diferente em cada padaria. Nesses anos todos, descobri um Brasil que eu não imaginava existir. Um Brasil de diversidades, de um povo hospitaleiro e bom, além de lugares belíssimos. Fiz das minhas viagens a trabalho um grande aprendizado. Aprendi a gostar de São Paulo, essa gigante que, no meu conceito, domina o restante do país e descobri beleza em cada cidadezinha singela da minha região, o Centro Oeste Mineiro. Aprendi que o melhor de ir é voltar modificado.

Hoje sempre que viajo revejo meus conceitos sobre alguma coisa. A distância do nosso habitat nos permite ver as coisas sob um outro ângulo. As coisas, os fatos, a vida. Geralmente refaço minhas listas. Diminuo a lista das necessidades, crio novas prioridades e começo a pensar na próxima viagem.  Me faz bem esse exercício. Volto para casa animada para colocar em prática os desafios que me propus enquanto distante.

Pode ter sido uma viagem rápida ou longa, isso não importa. O que importa aqui é usar a distância para uma reflexão. Distante dos nossos pertences, das nossas paredes acostumadas conosco podemos baixar a guarda. Aí fica mais fácil deixar-se entrar no novo ambiente  e consequentemente trabalhar ou se divertir.

Para quem vai a trabalho, o foco ajuda a esquecer a distância de casa e as preocupações com os que deixamos. Quando a casa funciona sem a nossa presença é sinal que aprenderam a lição. Para quem vai a passeio tudo pode virar diversão. A comida, os lugares, as pessoas e até as mancadas. Basta deixar as malas no chão e junto com elas as bagagens da alma. Uma alma leve trabalha ou se distrai muito mais facilmente.

E depois do trabalho feito com gosto e qualidade; depois da diversão, do riso e de liberada as endorfinas adormecidas, refletir será apenas uma consequência. Um presente que nos damos. Um convite ao recomeço de alguma coisa, nem que seja apenas uma melhor versão de nós mesmos.

leilarodrigues-palavras.blogspot.com.br

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