O homem do braço de ouro

 

Imaginemos que Paulo Guedes, o superministro, esteja certo em todas as reformas que propuser – ou que o superministro Sérgio Moro tenha sempre razão. E daí? Se não conseguirem convencer a maioria a segui-los, nada vai passar pelo Congresso. Não é só convencê-los de que estão certos. É mostrar a cada um que vantagem terá ao segui-los. Coisa para profissionais da política. Bolsonaro já teve duas derrotas antes de entrar em campo (aumento do STF, isenções para a indústria automobilística). Há outros itens caríssimos sendo votados, mesmo nesses dias parados. É hora de agir.

 Bolsonaro parece ter percebido que seu articulador, Ônix Lorenzoni, não começou a atuar. E entrou pessoalmente no jogo. Já marcou para hoje um café da manhã com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; e encarregou a deputada Teresa Cristina, que será sua ministra da Agricultura, de garantir o apoio da bancada ruralista, que ela preside, às reformas do Governo. Ela irá também trabalhar na articulação política, onde sempre se saiu bem.

 Já houve a ordem para que Paulo Guedes fale menos. Mas há ainda os filhos do presidente (e no Congresso, mesmo quando se fala a verdade, é preciso tomar cuidado). O senador eleito Flávio Bolsonaro disse, à sempre atenta Rádio Bandeirantes, que a volta de Renan ao comando do Senado será ruim, “porque o Congresso precisa de um presidente ficha limpa”. É verdade – mas quem quer ouvir essa verdade? E Renan, sim, pode voltar.

O Senado terá ampla renovação, mas não o suficiente para que pessoas como Renan (e, antes dele, Sarney) deixem de ter a cara da Casa. Renan já foi quatro vezes presidente do Senado, e isso não acontece por acaso. Ele é situação ou oposição, depende do que for mais conveniente. Pode apoiar Bolsonaro, claro, desde que para ele isso valha a pena. Flávio Bolsonaro, na entrevista à Bandeirantes, criticou “a prática de alguns parlamentares de criar dificuldades para extorquir o presidente em busca de cargos”. Pois é. E é com eles que é preciso negociar. Ou derrotá-los na batalha parlamentar.

Bolsonaro se elegeu bem, deu um tiro no alvo ao nomear Sérgio Moro para o Ministério, está fazendo uma esplêndida campanha de “gente como a gente” na internet – veja, ele come hambúrguer no balcão em vez de ir a um restaurante de luxo; veja, ele corta o cabelo no mesmo barbeiro de sempre.

 Aí é preciso colocar em vigor a lei da reciprocidade: ou o parlamentar ganha prestígio, associando-se a alguma iniciativa que lhe dê votos, ou é preciso encontrar outra maneira de envolvê-lo nos projetos do Governo.

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