O cortejo fúnebre do amendoim

Laura Ferreira 

 

Uma mente inquieta nem sempre consegue se concentrar em coisas relevantes aos olhos daqueles que buscam em tudo um fim útil. Entre as labaredas fulminantes de meu pensamento, sou surpreendida ao comer uma deliciosa paçoquinha, minha sobremesa favorita e companheira nos intervalos da faculdade. 

Observo sua embalagem e me concentro em todo o processo pelo qual aquele alimento foi produzido e acabo me detendo à matéria-prima: o amendoim. Em um súbito imagino o trabalhador e seu papel fundamental para que eu pudesse ter acesso àquela mercadoria.  

Quanto suor derramado, talvez um ambiente de exploração e toda forma de submissão visando à garantia do sagrado pão de cada dia aos seus filhos e cônjuge. Depois de analisado o contexto e toda a demanda de energia motriz exigida, decido refletir sobre o significado da essência daquele delicioso doce.  

Amendoim origina-se do tupi e significa “enterrado”. Perplexa diante de tal conhecimento, pois esse jamais fora evidenciado em minha mente, distorço as facetas do termo “enterrado”. Um dos pontos de análise pode ser o modo pelo qual a oleaginosa é concebida e a necessidade de desenterrar para o devido consumo. Em contrapartida, outro sentido consiste no movimento contrário: a introdução do legume na terra – ou seja, seu enterro. 

A imaginação, como o pássaro engaiolado que ao receber a liberdade anseia voar por todo o universo, encontra-se incontente quando não alcança seus galgares. O termo “enterro” ecoava em minha mente e os mais variados pensamentos tomavam conta de mim. Decidida a cessar o assunto, realizei o cortejo fúnebre do amendoim. 

[email protected] 

 

Comentários