Nordeste bolivariano

O pernambucano Abreu e Lima, aos 21 anos de idade, obrigado assistir à execução de seu pai, um herói da Revolução de 1817, conhecido por Padre Roma, por haver abandonado as ordens sacerdotais, impregnou-se de total aversão ao colonialismo luso-espanhol. Na condição de militar, largou sua futura Pátria a fim de colaborar na criação da República da Grande Colômbia, Equador e Panamá. Por isso, esteve presente na decisiva batalha de Carabobos (1821), ao lado de Simón Bolívar, assim surgindo a Venezuela. Com a morte do general Francisco Miranda, Bolívar assumiu a postura de libertador dos territórios daquela área sul-americana, trazendo visíveis reflexos aos movimentos, igualmente libertários, do norte brasileiro. No Pará, o jornalista Alberto Patroni, no Piauí, o brigadeiro Manuel de Sousa Martins, que em janeiro de 1823 derruba a Junta Provisória de Oeiras, antiga capital do hoje estado. No Ceará, Coluna Libertadora marcha à Fortaleza e a Parahyba remete a Jose Bonifácio seu incondicional apoio.

Por quase dois séculos, a partir de sua independência, o povo Venezuela ficou refém das oligarquias, governado por sucessivos ditadores, vendo a riqueza de seu país pilhada por empresas estrangeiras, especialmente de origem imperialista. A imagem do timoneiro, que nasceu em Caracas, parecia apagada por esse longo período, até 1970, quando jovens militares, sob liderança de Hugo Chavez, propuseram mudança de rumo da nação, baseada na educação para todos, valorização das culturas nativas, na igualdade de gênero e radicalização da democracia.  Não demorou esse idealismo ganhar contornos revolucionários e socialistas, ação que continua sendo praticada com raro patriotismo e vontade popular, pelo seu substituto-chefe, Nicolás Maduro, desde a morte do fundador da Pátria Grande, conforme Chávez gostava de se referir.

Nunca deixou de haver ódio e formação de conspiradores, em virtude do sucesso das medidas nacionalistas e populares adotadas, disso decorrendo sucessivas vitórias eleitorais, sem falar nas tentativas de golpe, como a que ora ocorre.  O sentimento autonomista tomou conta dos latino-americanos, ainda de força insuficiente para o enfrentamento da direita continental. Perseguição a líderes incontestes, a exemplo de Lula e Rafael Correa, conduzida pelas Cortes judiciais, ou por vias parlamentares, orientada pelo mais novo esquema de tomada do poder, põe em perigo as conquistas democráticas do continente.

 Diferente da região Sul, aculturada pelo conservadorismo europeu, a identidade histórica, manifestada pelo eleitorado nordestino, nos dois turnos das eleições presidenciais, não dá margem a outra interpretação, ela desenha sua solidariedade aos valorosos venezuelanos.

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