Nome do que não nos pertence

Antônio de Oliveira 

Uma das primeiras frases que eu decorei, em inglês britânico, foi esta: “Lent books never return” (Borrowed books never come back). Livros emprestados nunca voltam. Lembrando essa frase, associo-a a dois versos da canção: “A lição sabemos de cor/Só nos resta aprender”. Como sói acontecer. Decoramos, mas não de cor (“by heart”). Aprendemos... Mas não apreendemos.

Então, era uma vez... Aliás, não foi uma, não foram duas nem três vezes. Por isso tinha lá o seu serrote o habilidoso carpinteiro. Ou marceneiro, se assim preferir a categoria. Um dia, um cidadão foi até a marcenaria a pedir o serrote emprestado. O carpinteiro, pois bem podia ter sido o carpinteiro José (S. José?), disse: ― Olá! Em que posso servi-lo? ― Meu senhor, seu serrote. Me empresta? ― Está ali dependurado no painel de ferramentas. Vou pegá-lo. O provável tomador de empréstimo olhou para o painel e, surpreso, viu que cada ferramenta portava o nome: Vaivém. Curioso, perguntou: ― Por que esse nome, Vaivém? Respondeu o carpinteiro, destravando a língua e decodificando o nome. Vaivém é nome comum a todas as minhas ferramentas. Assim, se um Vaivém vai e vem, Vaivém vai; mas se o Vaivém vai e não vem, Vaivém não vai...

Voltando aos livros, um colega me contou que emprestara um livro raro a uma pessoa de sua confiança. Essa pessoa não devolvia o livro. Por fim, depois de muita cobrança, recebeu o livro de volta. Mas, para reutilizá-lo, foi preciso um tratamento de recuperação num hospital de livros. Estava caindo aos pedaços. Caso semelhante: Emprestei um livro raro a alguém, após resistir a insistentes pedidos. Aconteceu vir esse alguém a falecer e a viúva não dava notícia do livro tomado emprestado. Tempos depois, localizei meu livro numa biblioteca pública. Felizmente consegui convencer os responsáveis de que o livro a mim me pertencia. A viúva havia doado a biblioteca particular “de cujus” àquela biblioteca pública. Coisas que acontecem. 

[email protected]

Comentários